Aos 82 anos, a francesa Annie Ernaux foi distinguida esta quinta-feira pela Academia Sueca, tornando-se a 17.ª escritora, em 121 anos, a conquistar o mais prestigiado dos prémios literários
Com a habitual pontualidade e secura protocolar, o secretário permanente da Academia Sueca, Mats Malm, anunciou esta quinta-feira que o Prémio Nobel de Literatura de 2022 (no valor de dez milhões de coroas suecas, cerca de 918.000 euros), distingue a escritora francesa Annie Ernaux, pela “coragem e agudeza clínica com que põe a descoberto as raízes, os efeitos de alienação e os constrangimentos colectivos da memória pessoal”. Ernaux, a primeira mulher francesa a vencer o prémio – juntando-se a uma galeria de 15 homens, entre os quais se contam autores como André Gide, Albert Camus ou Patrick Modiano (este o mais recente, em 2014) –, foi imediatamente saudada, no Twitter, pelo presidente Emmanuel Macron, que vê nela “uma voz da liberdade das mulheres e dos esquecidos do século”. Entrevistada por uma cadeia televisiva sueca, a escritora agradeceu a “enorme honra”, sublinhando que a consagração vem acompanhada de “uma imensa responsabilidade, a de testemunhar o mundo através de uma forma de justeza e de justiça”.
Nascida em 1940, em Lillebonne, uma pequena povoação na Normandia, Annie Ernaux cresceu no seio da classe trabalhadora. O pai foi operário, a mãe tomava conta de um pequeno comércio (meio café, meio mercearia). Primeiro elemento da família a seguir estudos superiores, a escritora ficou desde cedo marcada por esse processo de ascensão social, fugindo de um mundo precário e pobre, em direcção aos confortos e tédios da burguesia, trajectória não isenta de arrependimentos, de sentimentos contraditórios e autoquestionamentos identitários, que acabam por ser uma das fontes e esteios da sua obra literária.
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