20 agosto 2022 18:59

Ingeborg Bachmann (1926-1973) foi uma escritora e poeta austríaca. “Malina”, de 1971, estava destinado a ser o primeiro volume de uma trilogia sobre “formas de morte”
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O conflito global de 1939-45 terminou no campo de batalha, mas não nos casais. Em Ingeborg Bachmann, a escrita é densa, o olhar disfórico
20 agosto 2022 18:59
Durante 150 páginas, “Malina” (1971) parece um romance semelhante a outros romances sobre a “incomunicabilidade”, em especial a incomunicabilidade conjugal. A protagonista e narradora, cujo nome desconhecemos, mantém uma relação com dois homens, Ivan e Malina (é deliberado este jogo com as expectativas do leitor que imaginava que a Malina do título fosse uma mulher). Tanto Ivan como Malina são frios, indiferentes, dominadores, e a protagonista reage a esse estado de coisas com uma submissão e uma devoção à beira do masoquismo: “Trato o Malina por tu e trato o Ivan por tu, mas estes dois tus distinguem-se por uma diferença de pressão incomensurável, incalculável, na forma de expressão. (...) O meu tu para o Malina é preciso e adequado às nossas conversas e às nossas discussões. O meu tu para o Ivan é impreciso, pode ter diferentes colorações, escurecer, iluminar-se, pode ser brusco, suave ou vacilante, é ilimitada a escala das suas expressões, também pode ser dito isoladamente, em grandes intervalos, e muitas vezes como o chamamento de uma sereia, sempre novo e sedutor, mas ainda não foi dito no tom, com aquela expressão que ouço em mim quando sou incapaz de dizer uma palavra diante do Ivan.”
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