
Em “Uma Breve História da Igualdade”, o economista francês Thomas Piketty defende que a evolução das sociedades a longo prazo é claramente no sentido da igualdade
Em “Uma Breve História da Igualdade”, o economista francês Thomas Piketty defende que a evolução das sociedades a longo prazo é claramente no sentido da igualdade
Thomas Piketty tornou-se famoso com um livro intitulado “O Capital no Século XXI”. Publicado em 2013, na esteira da crise financeira iniciada em 2008, usava uma grande quantidade de dados destilados em linguagem acessível para alimentar o debate público sobre a desigualdade, ao fim de três décadas em que o triunfo do modelo económico de Thatcher e Reagan a fizera aumentar para níveis por vezes comparáveis aos da velha era dos robber barons.
Em “Uma Breve História da Igualdade”, apresentado em parte como uma síntese desse e outros dois tomos, Piketty mostra que, não obstante a impressão deixada pelo período pós-1980, a evolução a longo prazo é claramente no sentido da igualdade. Tanto a distribuição de rendimentos e de riqueza quanto a de bens como a educação e a saúde são hoje em dia muito mais equitativas do que em séculos anteriores. Não foi um caminho linear. A escravatura, por exemplo, mesmo quando formalmente abolida, prolongou-se no colonialismo e em mecanismos de trabalho forçado (para compensar o ‘prejuízo’ sofrido pelos antigos proprietários de escravos). No que toca à suposta igualdade educativa nas sociedades contemporâneas, as variações de qualidade entre os professores em instituições de elite e os de muitas escolas públicas desmentem-na. Apesar de numerosas contradições como estas, não há dúvida de que, comparando a situação em 1914 e no fim do século XX, a diferença é abissal. A criação do imposto progressivo sobre o rendimento e a do estado social, obviamente associadas, criaram sociedades mais justas, e não só — também mais prósperas, desmentindo um argumento frequentemente usado para defender o modelo económico neoliberal. Ainda há muito caminho a fazer. Piketty retoma aqui algumas das suas propostas já conhecidas, incluindo a de os trabalhadores terem representantes na administração das empresas, a par com os acionistas (sistema que já existe na Alemanha) e a de uma herança universal — uns 120 mil euros, a receber aos 25 anos. A chave é a taxação dos ricos, eventualmente até aos 80 ou 90 por cento nos casos extremos. Mais uma vez, nada de inédito em termos históricos. Mas a análise vai para além da riqueza individual. Piketty examina múltiplos tipos de desigualdade que se cruzam, dentro de cada país e entre eles, e defende um socialismo participativo, notando que nestes assuntos nada acontece por mero efeito de leis naturais. / Luís M. Faria
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