Em 1964, Eduardo Gageiro é chamado ao Forte de São João do Estoril. O gabinete de Salazar quer registar o momento em que o ditador assiste à passagem de uma regata. Tal como outros fotojornalistas, igualmente convocados, Gageiro faz as imagens e publica-as no jornal. Guarda para si uma fotografia que só muito mais tarde dará a conhecer. Nela, Salazar aparece à direita, cumprindo desse modo a “regra de ouro” da composição que o fotojornalista aprendeu a aplicar com o seu primeiro mestre, o escultor Armando Mesquita. O ditador está de pé, de costas para a lente. Contempla as águas junto ao muro da fortificação. Da cena perpassa uma profunda solidão. O isolamento do homem, mas também aquele que o ditador impõe ao país, “plantado à beira” de um mar que deixou de ser uma saída mas o início de um calvário, um caminho forçado para a guerra: Salazar e o país que amordaça estrebucham para tentar impedir a inevitável descolonização, decretada, em 1960, pela ONU.
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