16 setembro 2022 20:20

col. fundação de serralves/mac porto
100 desenhos de Maria Antónia Leite Siza (1940-1973) recentemente doados a Serralves pelo viúvo, Álvaro Siza: a clara intenção de contar uma história
16 setembro 2022 20:20
Vi pela primeira vez obras de Maria Antónia Siza (1940-1973) no Porto, em 2002, e desde então foram vários os encontros com trabalhos seus, sempre reconhecíveis embora diferentes, e sempre o espanto e admiração me dominaram. Agora a biblioteca de Serralves foi ocasião para um novo encontro numa exposição diferente das anteriores, onde, além do simples mostrar, se tenta fazer história, o que também é complicado, até pela ausência de datas em todas as obras. António Choupina, colaborador de Álvaro Siza, comissaria desta vez uma exposição de 100 desenhos de Maria Antónia, mulher de Siza, recentemente doados a Serralves.
Não era fácil apresentar 100 desenhos, 20 dos quais em frente e verso — mais 20 linóleos extracatálogo emprestados pelo comissário — bem como uma série de documentos, no estreito espaço do mezanino da biblioteca, o que António Choupina resolveu excelentemente num percurso de ida e volta, onde tudo cabe e se pode ver sem problemas. Há uma deliberada vontade de simetria nesse percurso que parte do traço grosso dos linóleos, onde a mão que desenha tem de obedecer à resistência da matéria e à pequena dimensão do suporte, viajando depois pela linha desenhada até ao seu meio caminho, onde surgem as dramáticas obras finais a traço igualmente grosso, revelando um gesto que a doença tornara menos firme numa idêntica luta pela expressão, depois dos quais a exposição regressa ao ponto de partida numa linha enganadoramente apaziguante.