Exposição “Traverser La Nuit”, na Central Tejo: a variedade, a surpresa e o acaso

Um amplo panorama da coleção de Antoine de Galbert na Central Tejo, do MAAT, até dia 29
Um amplo panorama da coleção de Antoine de Galbert na Central Tejo, do MAAT, até dia 29
José Luís Porfírio
Porque não dedicar à noite, melhor, à travessia da noite uma exposição instalada no belo edifício da Central Tejo, que contribuiu para iluminar Lisboa e arredores durante muitas dezenas de anos? O vasto acervo reunido por Antoine de Galbert (herdeiro do Grupo Carrefour) a partir do qual foi escolhida esta exposição é suficientemente variado para permitir tal aproximação da autoria do curador Noëlig Le Roux: obras sobre a luz e a escuridão, a noite e a madrugada e, porque não, a vida e a morte por lá se vão encontrando.
O começo, num vasto espaço onde as peças podem dançar no chão, nas paredes ou suspensas no ar, é particularmente feliz, entre máquinas voadoras, entre as quais um enigma de Sara Bichão (na foto), uma espécie de ninho voador entre tecnologia e biologia e o peso do que parece ser uma pilha de carvão e, afinal, é uma montanha com duas toneladas de confetti negros, lembrando os antigos combustíveis que alimentavam a central (Stéphane Thidet, “Le terril”). O efeito surpresa desta peça é importante, pois está de acordo com a linha de conduta de A. de Galbert, um homem que reúne obras de arte à procura disso mesmo, de algo que o surpreenda e que para ele tem mais valor do que a moda, da qual desconfia, ou até da arte contemporânea, que um dia, em entrevista à “Arte Capital” (6/6/2006), designou como “fábrica de hambúrgueres”. Já os espaços mais contidos, as salas mais pequenas, foram mais difíceis de resolver, obedecendo ao tema ou a uma série de subtemas engenhosamente propostos por Le Roux, como, entre outros, o cair da noite com a presença forte e ‘bruta’ de Louis Soutter, “Náufragos da Noite”, aberto à melancolia, o “Sonho”, com imagens siderais, num conjunto onde a mais-valia continua a ser a presença da variedade e da surpresa e onde o acaso se vai sobrepondo, com fortuna vária, ao discurso do curador. / José Luís Porfírio
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