Exposições

Exposição “Traverser La Nuit”, na Central Tejo: a variedade, a surpresa e o acaso

21 agosto 2022 19:49

José Luís Porfírio

bruno lopes

Um amplo panorama da coleção de Antoine de Galbert na Central Tejo, do MAAT, até dia 29

21 agosto 2022 19:49

José Luís Porfírio

Porque não dedicar à noite, melhor, à travessia da noite uma exposição instalada no belo edifício da Central Tejo, que contribuiu para iluminar Lisboa e arredores durante muitas dezenas de anos? O vasto acervo reunido por Antoine de Galbert (herdeiro do Grupo Carrefour) a partir do qual foi escolhida esta exposição é suficientemente variado para permitir tal aproximação da autoria do curador Noëlig Le Roux: obras sobre a luz e a escuridão, a noite e a madrugada e, porque não, a vida e a morte por lá se vão encontrando.

O começo, num vasto espaço onde as peças podem dançar no chão, nas paredes ou suspensas no ar, é particularmente feliz, entre máquinas voadoras, entre as quais um enigma de Sara Bichão (na foto), uma espécie de ninho voador entre tecnologia e biologia e o peso do que parece ser uma pilha de carvão e, afinal, é uma montanha com duas toneladas de confetti negros, lembrando os antigos combustíveis que alimentavam a central (Stéphane Thidet, “Le terril”). O efeito surpresa desta peça é importante, pois está de acordo com a linha de conduta de A. de Galbert, um homem que reúne obras de arte à procura disso mesmo, de algo que o surpreenda e que para ele tem mais valor do que a moda, da qual desconfia, ou até da arte contemporânea, que um dia, em entrevista à “Arte Capital” (6/6/2006), designou como “fábrica de hambúrgueres”. Já os espaços mais contidos, as salas mais pequenas, foram mais difíceis de resolver, obedecendo ao tema ou a uma série de subtemas engenhosamente propostos por Le Roux, como, entre outros, o cair da noite com a presença forte e ‘bruta’ de Louis Soutter, “Náufragos da Noite”, aberto à melancolia, o “Sonho”, com imagens siderais, num conjunto onde a mais-valia continua a ser a presença da variedade e da surpresa e onde o acaso se vai sobrepondo, com fortuna vária, ao discurso do curador. / José Luís Porfírio