
Uma das mais convincentes primeiras obras do cinema português em muitos anos, o filme de Laura Carreira compete pela Concha de Ouro em San Sebastián, no festival que começa esta sexta-feira, 20 de setembro
Uma das mais convincentes primeiras obras do cinema português em muitos anos, o filme de Laura Carreira compete pela Concha de Ouro em San Sebastián, no festival que começa esta sexta-feira, 20 de setembro
Na longa-metragem de estreia de Laura Carreira, a classe operária não tem heróis. Percorrem um longo corredor, filmados de costas, de cabeça baixa até à entrada no armazém; passam um por um, em fila indiana, pelos torniquetes onde picam o ponto. Ali vamos conhecer Aurora, imigrante portuguesa no Reino Unido, que ganha a vida a coletar objetos nas prateleiras do grande depósito de vendas online. Os beeps dos leitores de códigos de barras que são a sinfonia do capitalismo amortecem-nos os sentidos. Entre o quotidiano do armazém em que se passa grande parte de “On Falling” e o apartamento de Aurora partilhado com polacos e espanhóis, não saberemos grande coisa dela, de onde vem, o que deixou, o que ainda espera. Vera, outra portuguesa, colega do mesmo fado com quem ‘racha’ o gasóleo de regresso a casa, sonha com um emprego em que lhe paguem para estar sentada o dia todo. Mas Aurora, que depois vai começar a ceder, não desarma logo. O filme protege-a com uma dramaturgia cuidada, subtilíssima. Nada de vitimização, zero de gordura sentimental. E a vileza aqui não tem corpo nem rosto, o que causa dano é angustiante, rodeia sem anunciar-se, cresce de mansinho. Como a solidão.
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