Nicholas Stoller apresenta a comédia dramática “Bros — Uma História de Amor”, com Billy Eichner, Luke Macfarlane e Guy Branum nos principais papéis. O crítico Vasco Baptista Marques dá-lhe uma estrela
A nova produção dos estúdios Apatow chega às salas munido de um rótulo: aquele que o promove como a primeira comédia romântica gay. Sob o peso desse título, move-se a custo um filme que fica refém da sua importância cultural, e que é traído por um argumento que deixa muito a desejar.
As cenas iniciais são ainda assim promissoras, apresentando-nos com graça a Bobby: um nova-iorquino de 40 anos cujo sucesso profissional contrasta vivamente com a indigência da sua vida sentimental.
Bobby vai navegando sem rumo entre corpos achados à pressa no Grindr, numa espécie de serial dating que cumpre apenas os mínimos olímpicos do desejo. O o melhor de “Bros” reside no modo nada pudico como encena esses encontros sexuais
Como o eterno solteirão que se gaba de ser, Bobby vai navegando sem rumo entre corpos achados à pressa no Grindr, numa espécie de serial dating que cumpre apenas os mínimos olímpicos do desejo (e o melhor de “Bros” reside no modo nada pudico como encena esses encontros sexuais).
Ainda a procissão vai no adro e já ele ficou embeiçado por um desconhecido que encontrou por acaso numa discoteca: Aaron, um musculado advogado que, como ele, tem dificuldade em ‘ligar-se’. Os sucessivos avanços e recuos que vão marcando esta relação constituem o centro de um filme que se destaca, sobretudo, pela sua fixação na vida sexual.
De facto, a câmara quer a tal ponto mostrar-se gay friendly que acaba por impedir que as personagens existam além da sua orientação sexual (não há cena que não gire à volta do tema).
Pior é, porém, a forma muitíssimo forçada como o filme obedece ao caderno de encargos da representação sexual, recorrendo a um subenredo (aquele que diz respeito à abertura do museu LGBTQ+, na imagem abaixo) que serve somente para integrar na narrativa um exemplar de cada género — sendo que o desafio que nos é proposto parece consistir em descobrirmos o mais caricatural de entre eles.
Esse desejo de conformidade contamina também os diálogos, que primam pelo seu tom predicante, isto é: pela necessidade de expor, didática e sucintamente (e, quase sempre, sem graça), as tribulações históricas da comunidade LGBTQ+. Mais domesticado do que isto, é difícil.
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