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Pluma Caprichosa

A Democracia morre na escuridão

A Democracia morre na escuridão

Clara Ferreira Alves

Escritora e Jornalista

Por minutos, o Ocidente estava salvo e parecia ter encontrado um ponto de apoio para mover o mundo

Há cinco minutos, a Europa dava-se os parabéns pela união e pelo vigor novo que a tomava com a guerra da Ucrânia. A Europa estava mais forte do que nunca e a NATO ressuscitava, rearmava-se e retomava o trono da grande aliança atlântica. Na Ucrânia, Putin não conseguia tomar Kiev e muito menos decapitar o governo de Zelensky e substituí-lo por fantoches e assassinos, como fez na Chechénia.

E mesmo os separados britânicos pareciam esquecer as agruras do divórcio litigioso com a União Europeia, aproveitando o palco internacional para recuperar o prestígio de um governo debilitado por escândalos, pelo falhanço na pandemia e por corrupções de um primeiro-ministro incompetente e volúvel, e aderiam à grande causa europeia e americana contra o belicismo russo. Depois de terem sido a grande máquina de lavar dinheiro russo e dos proventos do petróleo e gás. Na Grã-Bretanha, os erros e consequências do ‘Brexit’ eram mais uma vez postos de lado em nome de uma causa maior, a liberdade da Ucrânia. Na Alemanha, um Governo de coligação ao centro ousava apagar o (duvidoso) legado Merkel e fazer um realinhamento das prioridades. E em Bruxelas, as enxurradas de vacinas e euros garantiam que os países da Europa não recebiam com uma mão para trair com a outra, e mostravam mais entusiasmo com a causa europeia. A Itália tinha, em décadas, um primeiro-ministro decente, a Grécia recuperava com um tecnocrático Governo de direita, a Espanha tinha demonstrado uma resistência à crise com um Governo socialista que aguentara uma coligação com a extrema-esquerda e as investidas da direita desunida, crescendo economicamente, e em Portugal o lustro de uma maioria absoluta dos socialistas assegurava estabilidade, com o centro-direita destruído.

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