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Pluma Caprichosa

É esta a verdade

É esta a verdade

Clara Ferreira Alves

Escritora e Jornalista

Se sabemos que Hitler foi o criador e chefe do nazismo, e Mao o do maoísmo, e Estaline o do estalinismo, não sabemos ao certo o que é Putin

Rússia tem uma larga tradição de abolição da verdade. Muito antes do mundo em rede, a Rússia reescrevia a História. O exemplo extremo do historiador único, omnisciente, omnipotente e omnipresente, foi dado por Estaline, Stalin, que nem se chamava Estaline. O nome foi retirado da palavra russa para aço, stal, porque o homem nascido Joseb Besarionis dze Jughashvili era original da Geórgia antes de se tornar o revolucionário soviético e líder supremo. E um homem de aço. Claro que a Geórgia fazia parte do império russo e na transição para o marxismo-leninismo ele estava lá, colado a Lenine, embora Lenine desconfiasse daquela natureza brutal. Um homem que Lenine acha brutal tem que ser muito brutal. Os sucessivos falhanços das políticas estalinistas, com a mistura de genocídio, limpeza étnica, guerras, anexações, purgas, fomes, e, de um modo geral, política de extermínio de todos os presumíveis inimigos do dogma socialista e do criador, determinaram que a História fosse abolida em 1928.

Na Conferência da União dos Historiadores Marxistas foi oficialmente consagrado Josef Stalin como o único autor da História da Humanidade. O autor de uma espécie de curso abreviado da gloriosa marcha para o triunfo do comunismo revolucionário instituído como sistema único de governo dos povos. O curso chamava-se Kratki Kurs e não admitia contradição. Na imagem, Estaline praticamente inventou o Photoshop, modificando e apagando as fotografias para ficar bem no retrato. Dissolvia as manchas da pele, ampliava a figura e eliminava figurantes.

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