Ser rei em águas internacionais é uma ideia tentadora. Pode ser um engano. Vejam os oligarcas que estão à nora
Nada como ler o “Financial Times” para compreender o drama dos donos dos superiates. Escreveu um analista dedicado ao mercado financeiro que investir num superiate, ou megaiates, é pouco racional. E exemplificou. Novembro passado, um Van Gogh maneirinho foi leiloado por mais de 80 milhões de euros. Pendura-se na parede e espera-se que valorize. Se precisar de liquidez é fácil de transportar e mais ainda de despachar. Ora, um superiate é uma carga de trabalhos. Exige manutenção permanente e não se vende de um momento para o outro e nem se esconde com a facilidade que era suposto acontecer — veja-se o caso dos oligarcas russos, que têm tido os seus brinquedos apreendidos devido às sanções contra a Rússia e sua elite. E mesmo que um porto remoto os aceite é um imbróglio, pois só meia dúzia de locais no mundo têm capacidade para os reparar. E deus sabe como aquelas porcarias avariam. E custam mais de dez Van Goghs só a fazer o unboxing — sem contar com tripulação, manutenção e combustível.
Não sendo um exclusivo dos oligarcas russos, é a própria indústria que admite que o “gosto” na construção de superiates foi moldado nos últimos anos por eles: maiores e mais ostensivos — “à russa”. Claro que ter um superiate (mais de 30 metros) megaiate (mais de 70 metros) ou gigaiate (acima dos 90 metros) pode imediatamente levar às clássicas ilações sobre tamanho de pilinhas, mas há mais qualquer coisa que leva a que tanto lacaio de Putin I tenha optado por uma barcaça que exige manutenção extrema 365 dias por ano. Mais que puro exibicionismo: “Não é só fundear, levantar no helicóptero e voltar no ano seguinte.” Não é um apartamento na Quarteira e regressar no agosto seguinte. É preciso ter pelo menos duas tripulações a tempo inteiro que se revezam a cada seis meses — e estamos a falar de camareiros, capitão e engenheiros. E em regime de prontidão (o que exige que as sanitas estejam limpas com escovas de dentes e cotonetes) há uma estratégia para abastecimento imediato de combustível e frescos. E há um código de silêncio no sector tipo Omertà. Mas é um sector onde dinheiro resolve quase tudo. Já cais de primeira linha para parquear o seu brinquedo à vista de todos em Monte Carlo é preciso mais que dinheiro e poder. É necessário ter conexões para chegar ao chefe dos arrumadores.
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