28 outubro 2022 0:04
Cave acredita em Deus sem saber se o Deus em que acredita existe. E considera que a experiência religiosa consiste justamente nisso, em aceitar que a dúvida é já um espaço de crença
28 outubro 2022 0:04
O mais inesquecível concerto a que assisti até hoje foi o de Nick Cave. Qual deles? Todos, ou quase todos, em especial o do Coliseu dos Recreios, em 1994, e o do Primavera Sound, em 2018. O Cave de 2018 era bem diferente do de 1994. Embora já não estivesse na fase caótica dos The Birthday Party, e tivesse atenuado a agressividade dos Bad Seeds com “The Good Son”, em 94 era ainda um jovem, “um egomaníaco com baixa auto-estima e bastante energia sexual”, além de um heroinómano contumaz; um quarto de século depois, apresentava-se em palco como um sexagenário clean mas intenso, e um pai de luto, depois de um dos filhos ter caído de um penhasco em Brighton. Se o Coliseu foi um momento dionisíaco, electrizante, no Primavera houve uma catarse a caminho de uma pacificação, mas ainda muito longe dela.
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