O português ideal não precisa de ir à escola, nem ao hospital, nem ao tribunal. Na verdade, o português ideal é um português defunto
Quando o Presidente da República disse que, nos próximos meses, “cada qual fará o esforço para não estar doente”, fui obrigado a reflectir e concluí, com vergonha, que nunca antes fiz esse esforço. Tenho vivido de forma inconsciente, sem me empenhar para não adoecer — e por isso tenho tido, como é evidente, algumas doenças. A culpa não é só minha. A ciência, estranhamente, tem dirigido a sua atenção para a cura de doenças, quando seria mais fácil e barato lembrar às pessoas que devem fazer um esforço diário para não adoecer. Se todos fizessem esse esforço, o SNS funcionaria muito melhor, ocupado apenas com os preguiçosos que não se esforçam o suficiente. Alguns levam o desleixo tão longe que até acabam por morrer, o que não deixa de ser justo. Eu tenho padecido de algumas maleitas, e até já fui submetido a operações cirúrgicas mais de uma vez, só para se ter uma ideia do meu desmazelo. Talvez não seja justo, aliás, usar o verbo padecer. Provoquei algumas maleitas, assim é que é. Quando era pequeno, não me esforcei o suficiente para evitar o sarampo, a papeira e a escarlatina. Mas a idade adulta, curiosamente, não dá a ninguém a maturidade suficiente para aperfeiçoar o esforço para evitar doenças. Tenho reparado que os idosos, uma faixa da população com idade para ter juízo, são dos que menos esforço fazem para não adoecer.
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