Na pandemia, os cidadãos isolaram-se em casa, para não sobrecarregar as urgências respiratórias. É agora óbvio que as grávidas deviam ter-se isolado em conventos
Intrigado com o caos nas urgências de obstetrícia, fui tentar saber mais sobre o fenómeno. A primeira ideia com que fiquei é que se trata de um problema estrutural, o que é óptimo. O problema estrutural é o tipo de problema cuja responsabilidade não pertence a ninguém. Se tivéssemos um euro por cada vez que alguém disse, nas últimas semanas, a frase “estamos perante um problema estrutural”, teríamos dinheiro suficiente para resolver o problema estrutural. No entanto, curiosamente, a falta de dinheiro não parece ser uma das causas do problema. O ministro das Finanças já disse várias vezes que não há falta de recursos financeiros no SNS. E há igualmente quem diga, apoiando-se em dados da OMS, que o problema também não é a falta de médicos. Sendo assim, a conclusão não é difícil: não havendo escassez de dinheiro nem de médicos, o caos nas urgências de obstetrícia só pode ser responsabilidade das grávidas. Faz sentido que assim seja. No auge da pandemia, os cidadãos isolaram-se em casa, para não sobrecarregar as urgências respiratórias. Do mesmo modo, é agora óbvio que as grávidas, antecipando este problema, se deviam ter isolado em conventos, para não sobrecarregar agora as urgências obstétricas. Conseguimos que o SNS resistisse à pandemia de covid, agora é preciso tentar que ele sobreviva à epidemia de bebés, que são muito mais prejudiciais à saúde.
Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt