15 abril 2023 20:18

No exílio há 44 anos, a última imperatriz da Pérsia vai abrir uma fundação em Portugal. Numa entrevista exclusiva ao Expresso, recorda os anos ao lado do Xá Reza Pahlavi e o dia em que teve de abandonar o país. Sempre em contacto com o povo iraniano, continua a acompanhar o dia a dia em Teerão
15 abril 2023 20:18
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oi um ícone da sua época. Sofisticada, moderna, ocidentalizada, Farah Pahlavi, a terceira e última mulher de Mohammad Reza Pahlavi, o último Xá do Irão, 19 anos mais nova, simbolizava a emancipação da mulher do mundo islâmico. Era culta, independente. Tinha estudado arquitetura em Paris, coisa rara para uma mulher daquela época. Quando casaram, em 1959, tinha então Farah Diba acabado de fazer 21 anos, desde logo a sua imagem foi copiada por mulheres do mundo inteiro e as fotografias do casal Pahlavi, sempre presentes no movimento do jet set internacional, encheram as páginas das revistas sociais do mundo, como referência cosmopolita e contemporânea da nova face do Irão. Durante os 23 anos que durou o seu reinado ao lado de Reza Pahlavi — que a coroou imperatriz e lhe deu o título de Shahbanu — participou ativamente nas reformas estruturais e na construção do progresso e da modernização de um país de tradições ancestrais, que vivia ainda num sistema quase feudal, como nos dirá. Durante as décadas de 60 e 70 do século XX, as mulheres tiveram pela primeira vez o direito de votar e de poder exercer cargos políticos e nas cidades as raparigas ocuparam o espaço público, sem véu e de minissaia, como as jovens ocidentais de então. Mas apesar do legado dos Pahlavi, a monarquia do Xá ficou manchada na história. A mão forte da polícia secreta, a Savak, a censura, as detenções e execuções dos que eram contra o regime, os gastos da família acusada de corrupção, deram origem aos movimentos de contestação no final da década de 70 que conduziram à revolução islâmica, liderada por aiatola Khomeini. Em janeiro 1979, a família Pahlavi teve de partir para o exílio.