A Revista do Expresso

Índia e Paquistão, o grande medo nuclear

24 setembro 2022 9:21

Rui Cardoso

Rui Cardoso

texto

Procurador da República; ex-presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público

narinder nanu/afp/getty images

Quatro guerras em 73 anos, posicionamentos geoestratégicos opostos, governação condicionada pelos militares e serviços secretos ou pelo extremismo nacionalista. Dois países, um barril de pólvora e, agora, inundações catastróficas no Paquistão

24 setembro 2022 9:21

Rui Cardoso

Rui Cardoso

texto

Procurador da República; ex-presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público

guerra na Ucrânia inquieta, tal como as manobras militares chinesas no Estreito da Formosa ou as ocasionais provocações militares norte-coreanas. Sem esquecer os atritos entre Israel e Irão. Subjacente a todos estes cenários, o receio do uso de armamento nuclear. É exatamente este perigo que torna assustadora a eventualidade de um conflito armado entre dois vizinhos há muito desavindos: Índia e Paquistão, ambos com capacidade atómica. E nenhum subscrevendo o tratado de não-proliferação de armas nucleares, situação que, de resto, partilham com Israel (que não com o Irão, promotor de um programa nuclear de contornos nebulosos mas ainda subscritor do referido acordo).

Momentaneamente estas preocupações passaram para segundo plano, com o Paquistão a sofrer em finais de agosto e princípios de setembro as piores inundações da sua história: 1500 mortos, um terço do país submerso, colheitas de algodão (base das principais exportações paquistanesas) perdidas, bem como as de trigo, arroz ou cana-de-açúcar. E uma situação sanitária apocalíptica, com risco acrescido de epidemias de paludismo, dengue, febre tifoide ou cólera. Manifestamente as lições das inundações de 2010 não tinham sido tiradas no que respeita à prevenção de cheias e ao ordenamento do território, sem os quais as alterações climáticas têm as costas (mais) largas. Sinal de pacificação temporária, o Paquistão admite quebrar um tabu recente e voltar a importar produtos alimentares da Índia. Mas o antagonismo indo-paquistanês tem raízes profundas.