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“Soares ao pelotão!”: Mário Soares, a PIDE e o exílio em Paris

“Soares ao pelotão!”: Mário Soares, a PIDE e o exílio em Paris
Fundação Mário Soares

Uma conferência de imprensa dada por Mário Soares levou a ditadura a desencadear uma campanha de invulgar hostilidade. Marcello Caetano dedicou-lhe uma das “Conversas em Família”, em muros perto de Lisboa foram inscritas frases ameaçadoras, à sua casa chegou uma bala. Arriscando 12 anos de prisão, optou pelo exílio em Paris, onde esteve quatro anos, até ao 25 de Abril

Nove de abril de 1970, estrada do Carregado, a 40 km de Lisboa. Manhã cedo, o trânsito era intenso — ou não fosse um troço da principal artéria que ligava a capital ao Porto. De paralelepípedos de granito, a estrada era (e é) estreita e cheia de curvas. E ainda mais estreita se tornava devido aos altos muros de pedra que a ladeavam. A velocidade era necessariamente reduzida e não havia como não reparar nas estranhas frases que alguém, a coberto da noite, pintara nos muros. A vermelho, uma dizia, em letras garrafais, “Morra Soares”; a preto, outra rezava: “Soares ao pelotão!” O alvo era Mário Soares, o dirigente de uma das fações da oposição, contra quem o regime se encarniçara furiosamente nos últimos dias, devido às acusações que ele fizera no estrangeiro contra a ditadura e a Guerra Colonial. Ameaçadoras, as pichagens estendiam-se por quase uma centena de metros, à entrada do Carregado quando se vinha de Vila Franca de Xira. E, uma vez transposta a placa com o nome da povoação, prolongavam-se pelos muros brancos da bomba de gasolina da BP. Agressivos, os ditos, alguns com erros ortográficos de palmatória, eram de uma invulgar virulência “Comunista nogento! Morte ao cão!”; “Capen-no!”; “Soares judeu. Maten-no!”; “Soares maldito”; “Soares traidor”; “Soares comunista!!!”; “Soares turra! Maten-no!” Os autores deixaram uma marca bem visível, “C.C.C.”, sigla desconhecida e que fizeram questão de explicitar: “Comité de Caça aos Comunistas”, com direito a logótipo e tudo.

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