Revista de imprensa

Constâncio reuniu-se com Berardo e pode vir a ser sua testemunha

18 junho 2019 7:41

Encontro ocorreu cerca de um mês antes da reunião do Conselho de Administração do BdP que deu luz verde à entrada de Berardo no BCP

18 junho 2019 7:41

A 26 de julho de 2007, Vítor Constâncio recebeu José Berardo no Banco de Portugal (BdP) e discutiu com o empresário madeirense a intenção deste aumentar a sua posição no BCP, revela o “Público” esta terça-feira. Esta notícia surge menos de vinte e quatro horas depois de Berardo ter anunciado que está a ponderar chamar o ex-governador do BdP como testemunha abonatória, no processo que lhe lhe foi movido pela banca.

O encontro entre Constâncio e Berardo ocorreu cerca de um mês antes da reunião do Conselho de Administração do BdP; o banqueiro esteve presente e não se opôs ao pedido de reforço da posição qualificada da Fundação José Berardo (FJB) no BCP. De acordo com o jornal, só depois da reunião de 28 de agosto o BdP deu luz verde ao investidor para aumentar a sua posição no BCP.

O encontro de 26 de Julho de 2007 deu-se quando os serviços do BdP analisavam a operação financeira subjacente ao pedido de aumento de posição accionista de Berardo no BCP. Este ocorre onze dias antes de, a 7 de agosto, Berardo comunicar que ia ao mercado integralmente financiado pela CGD, ou seja, sem avançar com recursos próprios.

A reunião foi confirmada ao “Público” por fonte oficial da FJB, sustentada em registos de agenda. Questionado sobre este encontro pelo jornal, Vítor Constâncio não respondeu em tempo útil.

Berardo pode chamar Constâncio como testemunha

Joe Berardo, empresário madeirense a quem a banca moveu, a 20 de abril deste ano, um processo para recuperar 962 milhões de euros, está a ponderar chamar o ex-governador do Banco de Portugal Vítor Constâncio como testemunha abonatória. Esta informação foi veiculada ao “Público” por fonte oficial da Fundação Berardo.

Numa nota enviada ao jornal, Berardo diz estar a ponderar “seriamente arrolar como testemunha o drº Vítor Constâncio, o ex-Governador do BdP”, no processo judicial que os credores lhe moveram. Não apenas Constâncio, mas também outras “personalidades com responsabilidades nos diversos eventos ocorridos em 2007”.

Na passada sexta-feira, em entrevista à “RTP3”, Vítor Constâncio afirmou que a Caixa “deveria ter tomado decisões antes de as acções [do BCP] terem começado a descer”, e “isso não aconteceu”.

No dia seguinte, em declarações ao “Diário de Notícias” e à “TSF”, o ex-governador do BdP reforçou a mesma ideia: “Em qualquer momento, a Caixa podia travar o empréstimo, apropriar-se das ações que estavam em penhor e vendê-las.”

A tese de Constâncio tem particular relevância pois já havia sido defendida pelo próprio Joe Berardo. Na CPI à recapitalização da Caixa, o empresário madeirense, para se desresponsabilizar de não ter pago as dívidas, observou que se o banco público perdeu dinheiro, foi porque não executou as acções do BCP, quando começaram a cair, recorda o jornal.