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Opinião: O Planeta está mesmo a aquecer. O que vamos fazer?

Opinião: O Planeta está mesmo a aquecer. O que vamos fazer?

Graça Fonseca escreve sobre o festival BOIL e a forma como o humor e a criatividade podem ajudar a salvar o Planeta

“Nós, cientistas do sistema terrestre e do clima, estamos a ficar seriamente nervosos. Apesar de estarmos há anos a dar alertas, o Planeta está a mudar muito mais rápido do que esperávamos, subestimámos os riscos”.
Johan Rockström, diretor do Potsdam Institute for Climate Impact Research

Há muitas décadas que os cientistas alertam que planeta está a aquecer a um ritmo sem precedentes em toda a história da Humanidade. Em 2023, a temperatura média global atingiu 1,50°C acima dos níveis pré-industriais e 2024 já quebrou os recordes de 2023. E sabemos porquê. Há muito tempo que a influência da atividade humana no aquecimento global evoluiu de teoria para o facto estabelecido. É inegável que os combustíveis fósseis são a principal causa do aquecimento global do Planeta.

Os impactos das alterações climáticas estão presentes na nossa vida. Ondas de calor mais intensas e prolongadas, incêndios florestais mais destrutivos (as alterações climáticas já duplicaram a área de floresta ardida nas últimas décadas), períodos intensos e alargados de seca, tempestades destrutivas mais intensas e frequentes (à medida que as temperaturas aumentam, mais humidade evapora, o que agrava chuvas extremas e inundações), subida do nível do mar (as camadas de gelo da Gronelândia e da Antártida e os glaciares em todo o Mundo estão a diminuir de forma acelerada).

As alterações climáticas matam e destroem pessoas e comunidades. E causam gigantescas perdas económicas. Nas últimas duas décadas, as mudanças climáticas foram associadas a mais de sete mil grandes desastres, resultando em mais de um milhão de mortes e três biliões de dólares em perdas económicas. O impacto estimado das alterações climáticas na economia mundial é de 18% de quebra do PIB, de acordo com os estudos do instituto de Potsdam.

E no entanto, mesmo perante os alertas dos cientistas, a informação a que temos acesso, as mortes e as perdas causadas pelas alterações no clima (mais de 200 pessoas morreram em Espanha), as emissões de gases aumentam todos os anos e, consequentemente, a temperatura global também aumenta.

O que se passa? Não acreditamos nos alertas dos cientistas? Não compreendemos? Não sabemos o que fazer? Provavelmente, um pouco de tudo. Ou então, citando o Hugo Van Der Ding no Festival BOIL: “Queremos ter o privilégio de sermos os últimos humanos no Planeta”.

Não queremos, certamente, ter esse “privilégio”, pelo contrário. Em todo o Mundo, existem milhões de pessoas que querem fazer algo para mudar a sua relação com o Planeta, ter comportamentos mais alinhados com o que a ciência climática nos diz, mas não sabem como. Não compreendem a mensagem científica e não confiam nas mensagens publicitárias.

Para ativar o poder de agência das pessoas, para ajudar a mudar comportamentos são necessárias novas ideias e ferramentas de comunicação para a mudança. Salvar o Planeta não é motivo suficiente para agirmos. É necessário atuar ao nível da identidade – sermos cuidadores do Planeta – das normas sociais – cuidadores coletivos – e contágio social – infetar pessoas com o nosso comportamento cuidador.

Acionar a mudança através de contágio social requer boas histórias e ferramentas eficazes para as contar. Os cientistas precisam dos artistas, dos criativos, dos contadores de histórias, dos humoristas para comunicar ciência climática através de histórias, de experiências, de emoções. A ciência climática não é suficiente, a narrativa da sustentabilidade em si não é comunicação eficaz.

Assim nasceu o Festival Climático “BOIL – it’s getting hot in here”. Sem drama, mas com urgência. Em Serralves, um festival onde a ciência e a criatividade dialogaram através de boas histórias e um pouco de humor, para descomplicar a relação das pessoas com a ciência climática e nos ajudar a sermos agentes de mudança. O BOIL regressa para o ano, ainda com mais humor e criatividade.

Graça Fonseca
Cofundadora e CEO da agência Because Impacts

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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