Pedro Nuno Santos, o ministro e assumido líder da ala esquerda do PS, acredita que o partido, ao tentar “escapar a um confronto” com a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa - “e desta forma a uma eventual derrota ” - perdeu uma oportunidade para se bater no campo das ideias e dos valores. “Deixámos a tarefa de defesa dos valores do socialismo democrático a Ana Gomes, uma distinta militante do PS que, sem o apoio da nossa organização, corajosamente defendeu quase sozinha a matriz do nosso ideário”, conclui o governante, que alega que a estratégia que foi defendida por António Costa “só é boa para o partido a curtíssimo prazo”.
Em artigo de opinião, no Público deste domingo, Pedro Nuno Santos vai até mais longe: diz que o PS, ao permitir uma uma colagem implícita a uma candidatura que não apoiou explicitamente, deixou que “se retirassem conclusões sobre o seu posicionamento político-ideológico”, servindo para alguns defenderem um realinhamento do partido ao centro, prejudicando o “saudável antagonismo dialético entre esquerda e direita” - e colocando o país perante uma espécie de bloco central informal, protagonizado por Presidente e Governo. Uma democracia saudável e madura “alimenta-se” da polarização ideológica, alerta Pedro Nuno Santos, que critica o seu partido por alimentar outra polarização possível, “muito mais perigosa para a estabilidade do regime, que pode emergir entre partidos democratas e partidos antissistema”.
Assim, na opinião do socialista, a opção seu do PS nas eleições do último domingo “contribuiu involuntariamente para a afirmação do candidato de extrema-esquerda”, enquanto se o PS tivesse ido a jogo, mesmo perdendo, teria reforçado a “estabilidade da nossa democracia”.
No artigo titulado 'Das presidenciais de ontem às lições para o futuro', o ministro adverte que, se não tivesse surgido a candidatura de Ana Gomes, “André Ventura teria muito provavelmente ficado em segundo lugar” nas Presidenciais, “o que lhe teria permitido apresentar-se ao país como a verdadeira oposição ao sistema, ou seja, à democracia que conhecemos”.
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