Se as regras em vigor são de distanciamento social, aquilo foi um caos de proximidade: à porta da Faculdade de Direito de Lisboa, um aglomerado de gente em dia de confinamento, centenas ou milhares de pessoas - dos 33.364 eleitores que se inscreveram para votar antecipadamente na capital - faziam fila para entrar no edifício, uma fila longuíssima cujo fim dali não dava para ver, e havia mais gente a sair e a entrar, uma confusão onde era impossível a quem quer que fosse estar a metro e meio de distância, quanto mais aos dois metros recomendados. Este domingo de manhã, entre chegar à Cidade Universitária, descobrir onde ficava a mesa de voto, encontrá-la e votar, um cidadão levava entre 50 minutos e hora e meia - sem contar com as filas de trânsito ou as dificuldades para encontar lugar para estacionar o carro. Quem quis poupar tempo não poupou. Quem quis fugir aos ajuntamentos levou com uma multidão.
"Nunca demorei tanto tempo para votar, e vou aconselhar o meu marido a ir só no próximo domingo", comentava com o Expresso uma eleitora de 35 anos, que não quis revelar o nome: vinha da mesa 28b, podia chamar-se Vânia, Vanessa ou Zulmira, e estava arrependida de se ter inscrito para o voto antecipado, porque as razões para votar antecipadamente funcionaram exatamente ao contrário. Atrás dela, duas mulheres, mãe e filha, 59 e 87 anos, manifestavam-se igualmente frustradas: "Se adivinhasse não tinha votado hoje, concentrou-se tudo aqui", comentava a filha, a queixar-se que nem a idosa teve prioridade nas filas.
A alameda da Cidade Universitária parecia estar num daqueles dias de festa, com milhares de estudantes espalhadas pelo relvado (na verdade estavam eleitores a fazer fila para as informações), um carnaval de gente alinhada pacientemente de máscara posta. Passa um carro da Polícia Municipal com o altifalante ligado: "Senhores cidadãos, mantenham o distanciamento social! Usem máscara! E quando votarem abandonem este local!". Um conjunto de boas intenções nem todas possíveis de cumprir.
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