Presidenciais 2016

“Podíamos arranjar uma candidata engraçadinha, mas não somos capazes de mudar”

“Podíamos arranjar uma candidata engraçadinha, mas não somos capazes de mudar”
Marcos Borga

Jerónimo de Sousa no seu melhor. Assumiu que o “resultado ficou aquém das expectativas”, mas conseguiu contornar a noite da derrota eleitoral com soundbites de sobra. Desde logo quando parou de falar aos jornalistas quando Passos Coelho surgiu na televisão. “Estou hesitante em continuar. Estou a ver o Passos Coelho à minha frente” (...) estamos habituados a que queiram calar a voz do PCP

Um resultado "aquém das expectativas". Foi o mais longe a que o PCP conseguiu ir na analise do resultado eleitoral da candidatura de Edgar Silva a Presidente. O candidato ficou em quinto lugar, teve o prior resultado de sempre de um candidato presidencial comunista e o objetivo de forçar Marcelo a uma segunda volta caiu por terra.

Edgar Silva, primeiro e Jerónimo de Sousa depois assumiram isso mesmo. O candidato foi um pouco mais longe e admitiu que "o principal objetivo político estratégico não foi conseguido". Nada porém que chegasse para o fazer baixar os braços. Temperou a má prestação com a justificação vaga de que "nem tudo dependeu exclusivamente de nós", preferindo destacar o segundo lugar que obteve na Madeira ou a vitória no concelho de Aviz.

"A História é feita de intermitências e não termina esta noite", disse o candidato na despedida, prometendo que, amanhã, vai "continuar a sonhar com coisas impossíveis".

Jerónimo não teme interferências no Governo

Coube a Jerónimo de Sousa a resposta às questões políticas de fundo abertas com este resultado. Os jornalistas questionaram o secretario geral comunista sobre o impacto destas eleições na relação de forças da esquerda que sustenta o governo. Perguntaram sobre as consequências para a sua permanência na liderança do PCP ou sobre a eficácia da máquina comunista, mobilizado em força para as Presidenciais e que culminaram num resultado tão tímido.

Jerónimo esteve no seu melhor. Quando os canais de televisão lhe interromperam o seu discurso para passar a diretos com Pedro Passos Coelho acusou o toque. E, na verdade, as televisões regressaram ao Hotel Vitória.

Quando as dúvidas incidiram sobre o acordo das esquerdas, nem pestanejou. "Estas eleições não se vão reflectir na solução governativas", disse com todas as letras. "Da nossa parte não haver qualquer alteração sobre o que entendemos ser o nosso compromisso".

Já quanto aos efeitos internos da derrota eleitoral, Jerónimo quis "sossegar os jornalistas". "Não vos vou desiludir", começou por dizer, para garantir que o partido e os militantes "são os mesmos que estão aqui com um grande sentimento de solidariedade com Edgar Silva" e que "não muda" quando os resultados não correm de feição...

E aí surgiu o grande soundbite da noite. "Podíamos arranjar uma candidata mais engraçadinha e com um discurso mais populista", disse Jerónimo de Sousa. A indireta ficou-se por aqui, mas o tiro acertou em cheio. "São opções e não quero criticá-las", acrescentou Jerónimo. Para depois relatar com uma confissão: "Não somos capazes de mudar. Fazemos sempre a mesma opção por uma forma séria de fazer política".

E afinal a História tem costas largas. "Conhecemos muitos êxitos e recuos. A vitória não nos descansa e a derrota não nos desanima", disse o secretário geral do PCP. A luta há-de sempre continuar.

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