Com o átrio da Faculdade de Direito de Lisboa apinhado de gente a gritar “Marcelo, Marcelo”, o sucessor de Cavaco Silva prometeu ser em Belém um promotor de consensos mas garantiu, sobretudo, ser fiel a si próprio.
“Não abdicarei de seguir o meu estilo e de agir de acordo com as minhas convicções”, afirmou. Depois de uma respeitosa referência aos seus antecessores - Cavaco, Sampaio, Soares e Eanes -, Marcelo quis deixar claro que será o que prometeu na campanha: um Presidente diferente. Um Presidente que quer “virar a página”.
“É tempo de virar a página e recriar a pacificação social, económica e política em Portugal.” Ficou dado o recado, sobretudo para o PSD: Marcelo quer posicionar-se como promotor de consensos - “ninguém perceberia que colocasse os interesses partidários acima do interesse nacional”. Mas espera que a oposição cumpra ativamente com o seu papel.
“Serei o primeiro a querer que o Governo governe com sucesso e que a oposição seja ativa e representativa.” Para si próprio, Marcelo Rebelo de Sousa reserva o papel de promotor de “alguns propósitos essenciais”. O primeiro é o grande lema da campanha que o trouxe aqui: “Unir aquilo que as conjunturas dividem”.
“Quando mais coesos formos mais fortes seremos”, reafirmou Marcelo, que voltou a referir as feridas deixadas pelas legislativas e a necessidade de as sarar e fazer pontes. Aos que na sua família política sofreram com a conjuntura, deixou uma palavra da gratidão: “Saúdo o modo como souberam entender o propósito da minha candidatura, ser livre e isento, disposto a servir todos por igual sem discriminacoes nem distinções”.
O seu segundo grande propósito é “reforçar a coesão social e olhar presencialmente para os mais pobres”. Uma referência ao Papa Francisco foi aplaudida na sala. Marcelo diz que “não é uma questão de conjuntura, é uma questão de formação”.
Terceiro propósito: incentivar um bom relacionamento entre órgãos de soberania - com o aviso prévio ali deixado de que conta com o sucesso do Governo e a competência da oposição. Quarto: “Conciliar justiça social com crescimento económico e solidez financeira”.
“Ou crescemos de forma sustentada, criando justiça social e atalhamos as corrupções, ou só contribuímos para aumentar os radicalismos políticos.” A referência à corrupção é a novidade num discurso que Marcelo fez durante semanas de lés-a-lés pelo país.
Visivelmente emocionado quando subiu as escadas do átrio onde foi improvisado um palco para o discurso da vitória, Marcelo Rebelo de Sousa explicou (para os mais críticos?), porque escolheu aquele local: “Por ser uma casa de liberdade, pluralismo e liberdade de espírito”.
Marcelo começou por saudar o povo que o elegeu - “o povo é quem mais ordena” - passou aos adversários - “não há vencidos nestas eleições” - e terminou com a velha frase de Mario Soares: “serei o Presidente de todos os portugueses”.
Da campanha que o trouxe aqui, disse registar “momentos inesquecíveis”. Mais inesquecíveis ainda porque arriscou uma campanha nunca antes vista. E a vitória, como Pedro Passos Coelho, líder do seu partido, reconheceu, tem a “grande legitimidade política” de ser uma vitória sua.
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