Turismo do futuro é autêntico e sustentável

Prémios. Projetos distinguidos em todo o país lideram tendências de futuro no campo da sustentabilidade num ano em que receitas do sector superam metas definidas para 2027
Prémios. Projetos distinguidos em todo o país lideram tendências de futuro no campo da sustentabilidade num ano em que receitas do sector superam metas definidas para 2027
Jornalista
Autenticidade, identidade e sustentabilidade, baseadas em medidas que minimizem a pegada ambiental do sector, como a gestão dos fluxos turísticos, foram os caminhos apontados para o futuro do turismo na cerimónia da 6ª edição do Prémio Nacional de Turismo (PNT).
Pedro Machado, secretário de Estado do Turismo, assegurou que o país vive um momento “francamente positivo” e que o ano vai encerrar com os objetivos da estratégia para 2027 não só cumpridos, como superados, apontando para resultados em 2024 de “€27 mil milhões de receitas e acima dos 80 milhões de dormidas previstas”.
O governante reconhece que a estratégia para 2035 tem de olhar para os riscos do crescimento do sector, mas também para as oportunidades. A questão do overtourism — que atribui ao turismo a responsabilidade nos campos da escassez de habitação, imigração excessiva ou substituição de pessoas por inteligência artificial são “mitos urbanos” que é preciso corrigir.
A cerimónia do PNT decorreu no Forte da Crismina, no Guincho, e distinguiu, entre 400 candidaturas, cinco projetos em cinco categorias. Bernardo Trindade, presidente da Associação de Hotelaria de Portugal, venceu o Prémio Personalidade a par de Paulo Pinheiro, fundador do Autódromo Internacional do Algarve, a quem o galardão foi atribuído, pela primeira vez, a título póstumo.
Ao Agroturismo Fajã dos Padres, propriedade agrícola situada no topo de uma falésia na Madeira, só se acede por teleférico. Vencedor na categoria de Turismo Autêntico, destaca-se pelas atividades com práticas agrícolas e tradições ancestrais, pela recuperação de nove casas coloniais, pelo restaurante à beira-mar, baseado em produtos locais e biológicos, e pela reutilização, compostagem e uso da energia solar.
Autênticos e exclusivos, os itinerários do projeto Oh My Cod Food and Cultural Tours, em Lisboa, Açores e Alentejo, conquistaram o prémio Turismo Gastronómico pelo contributo em preservar e transmitir a gastronomia local, promovendo contacto direto dos viajantes com pequenos produtores, chefes e habitantes, através de experiências baseadas em investigação etnográfica.
Nesta sexta edição do PNT, o Parque Biológico Serra da Lousã — turismo com propósito social foi distinguido, na categoria de Turismo Inclusivo. Inclusão de pessoas vítimas de exclusão, e aplicação das receitas em projetos de apoio a pessoas com necessidades, bem como a adoção de sinalética em braille ou quartos acessíveis a cadeiras de rodas pesaram na escolha.
Os espaços do Turismo Industrial de São João da Madeira (TISJM) “são locais dinâmicos, de inovação”, considera a responsável que recebeu a distinção de Turismo Inovador pelo projeto pioneiro em visitas a fábricas em laboração, responsável por impulsionar a oferta turística na região; pela reabilitação e conservação do património industrial da cidade; e pela redução do desemprego. Conhecer quem está “detrás de um chapéu, sapato ou lápis triplica o valor da peça”, considera.
Medir a aplicação das medidas de sustentabilidade é um imperativo em que, garante Teresa Monteiro, vice-presidente do Turismo de Portugal, “estamos a trabalhar”. Mas, considera, “também do lado público tem de haver aproveitamento das novas tecnologias para monitorizar indicadores”. Empenhada neste objetivo, a Herdade da Malhadinha Nova, no Alentejo, reconhecida com o prémio Turismo Sustentável, viu a produção biológica autossuficiente; a utilização de energia solar e utilização de meios de transporte internos 100% elétricos distinguirem o projeto. “Queremos deixar um legado de autossustentabilidade onde o tempo, a natureza e o espaço são a mais elevada expressão de luxo e felicidade”, diz Carolina Fernandes, administradora da Herdade da Malhadinha Nova.
Bernardo Trindade, secretário de Estado do Turismo entre 2005 e 2011, distinguido com o Prémio Personalidade do PNT, antecipa crescimento moderado para 2025.
Que balanço faz de 2024 e que expectativas tem para 2025?
2024 foi um ano de consolidação, com um crescimento democrático, sentido em todas as regiões, e que responde ao problema social do desemprego. Para 2025 o que sentimos nos primeiros indicadores é a continuação de um crescimento moderado. O número de turistas à escala global vai continuar a crescer. Portugal oferece segurança, é autêntico, tem qualidade. Tudo isto permite olhar para o futuro de forma positiva.
Os protestos contra o excesso de turismo e gentrificação que estão a acontecer no estrangeiro são uma preocupação para Portugal?
Não rejeitamos a pegada do turismo e temos de regular a relação com o turista, mas tendo noção da importância que a atividade tem para a economia e o emprego. Quem nos pede para ser sustentável é o turista porque hoje é mais exigente, mais informado, e mais disponível para despender com quanto a experiência seja merecedora desse investimento.
Que avaliação faz do sector hoteleiro e o que se pode esperar para o próximo ano?
A hotelaria portuguesa é de muito boa qualidade e isso sente-se por todo o país, resultado do arrojo dos nossos empreendedores que investem em produtos de grande qualidade e os clientes respondem positivamente. Esse esforço vai continuar porque os empresários têm sentido retorno no quadro geral de afirmação do sector numa economia mais sustentável.
Qual a sua posição em relação ao alojamento local e às regras que se estão a impor?
Enquanto secretário de Estado do Turismo ajudei a criar o alojamento local. Havia centenas de alojamentos ilegais. Tal como os hotéis, para serem aceites por clientes mais exigentes, é importante que cumpram um conjunto de requisitos, e têm cumprido. Essa regulação far-se-á naturalmente, como a dos fluxos turísticos.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: bcbm@impresa.pt