Portugal dá passos tímidos no metaverso

Jornalista
A competitividade e a evolução para um mundo cada vez mais digital são um desafio constante para as empresas turísticas, que, timidamente, estão a explorar as múltiplas possibilidades oferecidas pelo metaverso, o mundo virtual que tenta replicar a realidade e é apontado como uma “macrotendência” no futuro. Um estudo da consultora Deloitte, patrocinado pela Meta, empresa detentora do Facebook, estima que o metaverso possa contribuir com entre €259 e €489 mil milhões para o Produto Interno Bruto da União Europeia em 2035. E, neste contexto, o turismo na Europa surge como uma das áreas de maior potencial desta ferramenta, por ser a região geradora de 50% das receitas globais do sector.
Em Portugal ainda se estão a dar os primeiros passos. A empresa Madalia.World, responsável pelo “gémeo digital” da ilha da Madeira no metaverso, avança que mesmo abordagens “tão simples” como experiências imersivas para venda de destinos em agências de viagens já resultaram no aumento de 34% das vendas para um destino. “A utilização de realidade aumentada para visualização de gastronomia local provoca sempre um impacto na decisão de visitar o destino real, por vezes até no exato momento em que as pessoas terminam a experiência. Isto é amplificado quando juntamos uma atividade lúdica ao próprio destino, como, por exemplo, a construção de uma escape room virtual que ‘viaja’ por várias partes da ilha ou um simulador automóvel que ‘decorre’ nas estradas reais do destino”, explica Candy Flores, CEO da empresa.
A responsável da Madalia.World refere ainda outros exemplos do impacto da utilização desta plataforma, como a “duplicação do número de reservas de grupos em museus” depois do lançamento dos “micromuseus em realidade aumentada”. O “gémeo digital” da Madeira no metaverso está disponível atualmente de forma privada apenas na ilha, em Lisboa e em Paris, mas a empresa prevê iniciar uma abertura gradual desta ‘localização’ no último trimestre de 2024 e revela estar já a integrar novos “gémeos digitais” de territórios fora de Portugal, nomeadamente em África, Ásia e Caraíbas.
Através do metaverso os turistas podem visitar de forma virtual destinos, hotéis, restaurantes ou atrações turísticas antes mesmo de fazerem uma reserva. A agência Viagens El Corte Inglés já tem a decorrer em Espanha uma experiência em que os clientes têm a possibilidade de conhecer os destinos de uma forma imersiva a partir de casa, antes de reservarem uma viagem.
Por cá, no tradicional sector do enoturismo, a Sogrape foi a primeira empresa “a nível mundial” a entrar no metaverso, com uma visita “totalmente imersiva” à Quinta do Seixo, disponível para quem visita as Caves Sandeman, em Vila Nova de Gaia. “O grupo (que visita as caves) mantém-se junto em real time dentro da realidade paralela. As pessoas, transformadas em avatares, podem ver-se, conseguem falar, partilhar o que fazem. Todos os movimentos são vistos. No final podemos todos conversar porque vimos e vivemos a mesma experiência”, explica André Campos, diretor de Estratégia, Inovação e Transformação da Sogrape.
Esta experiência surgiu para resolver um problema que a empresa identificou nas visitas às caves em Gaia — a ausência de vinhas: “Achámos que esta era a forma de ir ao Douro sem sair das caves.” Apesar de ter sido desenvolvida para ser vivida em Gaia, o responsável não descarta a possibilidade de disponibilizar esta experiência no metaverso noutros locais, mas ressalva que “o sucesso do escalar da experiência” está indexado à proliferação de aparelhos tecnológicos como óculos virtuais. “Quando isso for possível, o público passará a ser mundial. Alguém na Índia pode ir ao Porto sem vir ao Porto, com um custo muito inferior”, garante André Campos.
Para Roberto Antunes, diretor-executivo do NEST — Centro de Inovação do Turismo, o grande potencial do metaverso está nas áreas de formação e gestão de recursos humanos, constituindo uma vantagem “dada a elevada rotatividade do sector”. Exemplifica com sessões de boas-vindas ou ações de formação, nomeadamente as mais específicas, “onde os ambientes não reais permitem que, em situações de treino, as pessoas possam ter uma noção aproximada das tarefas”.
O responsável acredita, porém, que a “imersão” no metaverso por parte dos turistas terá sobretudo um efeito potenciador do desejo de viajar, mais do que substituir a experiência real. “Não acredito nesta história de replicar destinos. Há imensos sentidos que não se conseguem trabalhar ainda ou incluir.” Embora se queira tornar o lado sensorial cada vez mais verosímil, há sobretudo um lado incontornável que é a empatia, o olhar humano, estar numa esplanada à beira-mar e interagir com quem está ao lado a viver esta mesma experiência espontânea. “Estes momentos os espaços virtuais não conseguem replicar”, conclui.
Tudo o que tem de saber sobre o PNT
O Prémio Nacional de Turismo (PNT) destaca os melhores e dá visibilidade a projetos com valor no sector do turismo em Portugal. A iniciativa do Expresso e do BPI conta com o alto patrocínio do Ministério da Economia e da Transição Digital, o apoio institucional do Turismo de Portugal, I.P., e o apoio técnico da Deloitte.
Turismo Autêntico Projetos que apresentam oferta abrangente e equilibrada do ponto de vista territorial, bem como da utilização de recursos locais.
Turismo Gastronómico Projetos que se destaquem por oferta gastronómica diferenciada e autêntica, alicerçada na valorização e promoção da gastronomia regional e nacional.
Turismo Inclusivo Projetos que promovam um reforço da relação com o consumidor através da comunicação ou de iniciativas que visem a sua inclusão e fidelização.
Turismo Inovador Projetos que apresentem uma oferta inovadora e a utilização de ferramentas e meios digitais para a comunicação, distribuição e análise do desempenho.
Turismo Sustentável Projetos que se distingam pela sustentabilidade ambiental, económica e responsabilidade social subjacentes à estratégia de médio/longo prazo.
Candidaturas 1 abril a 31 maio
Avaliação 1 junho a 31 setembro
Reunião de comités e júri outubro
Entrega de prémios dezembro
Para se habilitar a vencer o PNT apresente a sua candidatura entre até 31 de maio de 2024. Acompanhe tudo em https://expresso.pt/premio-nacional-turismo/
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