“O início de um turismo melhor”

Gestão. Sector quer alcançar e liderar a sustentabilidade ambiental, social e de governação (ESG), mas o caminho é complexo. Plataforma digital para empresas é a mais recente ferramenta de apoio
Gestão. Sector quer alcançar e liderar a sustentabilidade ambiental, social e de governação (ESG), mas o caminho é complexo. Plataforma digital para empresas é a mais recente ferramenta de apoio
Com todos os recursos aplicados no esforço de recuperação dos impactos da economia, que este verão vai ser crítico, e com problemas associados à guerra na Ucrânia, as empresas turísticas começam timidamente a mergulhar num novo desafio: alcançar a sustentabilidade ambiental, social e de governação, a partir de uma estratégia de ESG (Environmental, Social and Governance). O futuro, que Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, sintetiza como “o início de um turismo melhor”, já começou e o sector é orgulhosamente pioneiro em Portugal, ainda que todos reconheçam que este é um caminho longo e complexo, principalmente para as micro, pequenas e médias empresas.
Sistematizar e reportar indicadores ESG “é muito mais que uma ação de marketing ou a resposta às tendências de consumo. É a base para o crescimento e transformação de muitas empresas, mas também para a sua sobrevivência”, enfatiza o responsável pelo turismo nacional, que é corroborado por Pedro Franca Pinto, do projeto Craveiral Farmhouse, no Alentejo: “É fundamental a implementação destes indicadores para que a comunicação e o marketing correspondam à realidade”, afirmou recentemente no debate ESG Week 2022, organizado pela Associação Portuguesa de Ética Empresarial. “As políticas desenvolvidas nestes âmbitos são diferenciadoras e, como tal, as empresas têm todo o interesse em comunicar a sua atividade nestas áreas como modo de afirmação dos seus projetos empresariais”, conclui José Theotónio, CEO do grupo Pestana, que há dias foi considerada a empresa mais responsável em termos de ESG no sector do turismo.
Critérios de conduta
Ainda sem critérios absolutos definidos — espera-se ainda o afinar da diretiva comunitária e uma certificação global —, os indicadores ESG são descritos como critérios de conduta praticados por empresas que querem ser socialmente conscientes, ambientalmente sustentáveis e corretamente geridas. Muito em breve, tão ou mais importante que os resultados financeiros, os relatórios sobre esta matéria vão ser transversais a todas as áreas da economia e ter um peso fundamental na relação com instituições bancárias, investidores e opinião pública.
“Estes indicadores são como lentes adicionais na avaliação das empresas”, resume Luís Veiga Martins, chief sustainability officer da Nova School of Business and Economics, explicando que, “naturalmente, são os grandes grupos que começam a sentir o escrutínio e a necessidade de cumprir com objetivos nestas três áreas. Como consequência vão também arrastar os fornecedores e outros parceiros, por norma, pequenas e médias empresas”. O maior grupo nacional de hotelaria é também um dos signatários da Carta de Compromisso do Programa Turismo 360°.
O longo caminho da sustentabilidade
Para já, esta iniciativa governamental agrega 54 empresas que representam cerca de €1,9 mil milhões em termos de volume de negócios (cerca de 10% do total do sector) e perto de 15 mil colaboradores. Nos últimos dias, ficou disponível a plataforma digital do Turismo de Portugal, onde todas as empresas podem inscrever-se e começar a trabalhar a respetiva estratégia ESG. “Sempre dissemos que o turismo é uma força para o bem. Cria riqueza em todo o país, tem uma multiplicidade de efeitos positivos indiretos noutras indústrias, contribui de forma expressiva para a imagem do país, para a marca Portugal e, sobretudo, pode ser exercido por qualquer pessoa”, refere Luís Araújo.
Tendo em conta o atual contexto de guerra na Ucrânia, o responsável pelo grupo Pestana considera como prioritário “o tema da energia e das políticas a adotar no contexto da descarbonização”, mas chama a atenção para o facto de na atividade turística, ao ser “desenvolvida por pessoas e para pessoas”, a vertente social ser “ainda mais relevante”, e por tal, deve ser priorizada.
Como “sector transparente”, existem áreas da gestão ESG que as empresas ainda precisam de trabalhar e que são prioritárias, na opinião de Luís Araújo: “Há ainda um caminho a percorrer em temas como a paridade de género, a cooperação entre empresas, o trabalho em rede, a redução do desperdício, a valorização do trabalho e tantos outros. Por isso este trabalho de chegar a todas as empresas, a todos os colaboradores, a todos os turistas. Apelar à responsabilidade de todos e mudar a atitude de como vemos o turismo e de como o praticamos, para termos um turismo ainda melhor. Porque só assim teremos um planeta melhor.”
Telmo Faria, que em 2012 inaugurou o Rio do Prado, em Óbidos, um projeto de turismo criativo e sustentável, deixa um alerta: “Continuamos a acreditar que mais do que publicar medidas ou relatórios, o mais importante é criar formas de fazer interessar as pessoas, sejam hóspedes, parceiros de negócio ou a comunidade local. Mais que uma meta teórica, a sustentabilidade está a estruturar o nosso futuro.”
PRÉMIO NACIONAL DE TURISMO
O Expresso e o BPI, em parceria com o Turismo de Portugal e a Deloitte, lançam pelo quarto ano consecutivo o Prémio Nacional de Turismo (PNT), uma iniciativa para promover, incentivar e distinguir as melhores empresas, práticas e projetos do sector.
Textos originalmente publicados no Expresso de 17 de junho de 2022
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