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Marcelo alerta para “sinais internacionais preocupantes” e possível aumento das taxas de juro

Marcelo alerta para “sinais internacionais preocupantes” e possível aumento das taxas de juro
MANUEL DE ALMEIDA

Presidente da República teme que a “inflação alta” possa resultar num “novo aumento de juros” do BCE. E sobre presidenciais? “Um presidente da República não pode nem deve comentar candidaturas”, disse.

Depois de vários meses com a inflação a abrandar, a taxa de inflação aumentou neste mês de agosto. Apesar da situação de Portugal se manter “melhor do que a média europeia", o Presidente da República chamou à atenção para o perigo de novos aumentos das taxas de juro do Banco Central Europeu (BCE). “Há sinais internacionais que já começavam a ser um bocadinho preocupantes. Primeiro, em alguns países europeus, a inflação ainda é relativamente alta. A média europeia está nos 5,5%, que é acima dos 3,7%, que com a subida de 0,6%, que agora tem Portugal. Comparativamente, a nossa situação é muito melhor do que a média europeia”. E esta escalada pode significar um “novo aumento de juros” quando se esperava "uma folga agora em setembro”, disse Marcelo aos jornalistas durante a visita à Feira do Livro de Belém. Esta “não é uma boa notícia” para os milhares de portugueses que “têm contratos com a banca” e “juros a subir”.

Outra das preocupações expressadas pelo presidente da República é relativa ao “crescimento zero” confirmado no segundo trimestre do ano. “Os meses de final do ano podem não ser o que desejaríamos”, considerou Marcelo.

Também as previsões “desfavoráveis” na evolução do turismo, registadas nas últimas Feiras de Turismo, estão entre as inquietações de Marcelo. “Tudo isto em conjunto pode significar para um país como Portugal, que sofre muito do contexto abrangente, não subir o turismo ao ritmo em que estava a subir, não subir as exportações ao nível em que estavam a subir e, obviamente, o crescimento sofrer com isso, ao mesmo tempo que a nossa inflação é melhor do que a externa, que pode provocar a continuação da política de juros altos do BCE”.

Contudo, Marcelo adiantou que a capacidade de resposta do Governo português a este contexto internacional é “limitada”. “Para lidar com esta situação é preciso compreender o que está por detrás: a incerteza política europeia”. Entre os exemplos do presidente estiveram as eleições espanholas que ainda estão em fase de diálogo e importantes eleições que se aproximam como as holandesas, as europeias e as americanas.

Passando para o impacto desta subida da inflação nas rendas, Marcelo disse apenas que é necessário “ver a evolução da inflação até ao final do ano ou dos próximos meses” antes de qualquer posição.

Mantendo-se no tema da habitação, o PR disse que não irá comentar a aplicação do diploma do Mais Habitação que vetou neste mês de agosto – e que o PS informou que irá avançar sem alterações. Contudo, o chefe de Estado lembrou que há um diploma já promulgado que pretende facilitar o licenciamento e que “precisa de ser implementado”. “É uma corrida contra o tempo. Para o tornar operacional é preciso que a legislação administrativa seja alterada”, atirou.

Com o segundo Conselho de Estado marcado para dia 5 de setembro, às portas da rentrée do PS, Marcelo não quis revelar o que será discutido. Aos jornalistas, respondeu apenas que terá um “primeiro ponto” com a “intervenção do primeiro-ministro", se este assim o entender, seguida de uma intervenção do próprio presidente da República. Já o “segundo ponto” será sobre a guerra na Ucrânia, “um tema importante da evolução política, económica e social”.

Marcelo chegou a comunicar que a gestão pública da TAP estaria entre os temas debatidos nesta reunião. Agora, o Presidente preferiu não revelar se a decisão se mantém. “O que direi, direi”, disse. Ainda sobre a companhia aérea, Marcelo não se mostrou surpreendido com os bons resultados comunicados esta semana. “O interesse na TAP por portugueses e estrangeiros era evidente, tanto que estava quase fechado um acordo com a Lufthansa. [A TAP] é uma empresa que tem rotas muito importantes como para a América do Sul, África e EUA. Três leques de destinos que as grandes companhias aérias não têm”.

Por fim, com a corrida às presidenciais na ordem do dia, Marcelo recusou falar sobre os possíveis sucessores. “Um presidente da República não pode nem deve comentar candidaturas”. Ainda assim, o atual presidente prometeu ir mais longe que “Cavaco ou Soares” e não se irá “pronunciar sobre política portuguesa subsequentemente”.

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