Vitória alargada dá confiança a Rui Rocha para o próximo mandato. Durante o seu discurso de encerramento da Convenção da IL, o líder apontou prioridades, com destaque para a Segurança, e anunciou Mariana Leitão como candidata apoiada pela IL às Presidenciais
O desfecho era o esperado: Rui Rocha foi reeleito este domingo presidente da Iniciativa Liberal (IL), alargando a sua margem de vitória, com 73,4% dos votos, depois de ter vencido há dois anos por escassa diferença. Uma vitória bem mais confortável, que renova a confiança e dá argumentos ao líder para acreditar que o partido sai mais unido desta Convenção Nacional. Durante o seu discurso final, apontou prioridades, com destaque para a Segurança, e anunciou Mariana Leitão como candidata apoiada pela IL às Presidenciais.
Além da “defesa da liberdade”, “Portugal precisa de esperança, de coragem, de frescura, de ambição. Precisa da Mariana Leitão”, defendeu Rui Rocha, perante uma plateia entusiástica de liberais, que só aguardavam a confirmação da líder parlamentar como candidata a Belém. Durante o primeiro dia da reunião magna foram muitas as pistas que faziam antever o nome, com vários liberais a considerarem que teria o perfil para candidata presidencial.
Olhando para o futuro, Rui Rocha elencou a Segurança e a descida da carga fiscal como prioridades, garantindo que o partido será mais “ativo” relativamente ao primeiro tema, porque “sem segurança não há liberdade” e o país precisa de propostas moderadas. Rocha voltou a sair, assim, em defesa da proposta da IL para incluir no Relatório de Segurança Interna (RASI) a nacionalidade e o género de criminosos e vítimas, que será discutido no próximo dia 12 no Parlamento, tal como outras medidas que constam de um pacote legislativo do partido sobre o tema.
"Os factos não discriminam", afirmou o líder da IL, sustentando que servem para ter uma ação informada e criar propostas para garantir também a segurança do país, uma vez que há dados “algo preocupantes” sobre "certos tipos de criminalidade” em algumas zonas, apesar de Portugal ser um país seguro.
Entre as medidas do partido inclui-se uma proposta de alteração do regime penal de crimes de associação criminosa, tráfico de seres humanos ou violência doméstica, agravando as respetivas penas, e uma proposta de revisão do regime de sanção acessória de expulsão do território, em caso de “reincidência” ou de "serem cometidos crimes graves".
Propostas que mostram que o partido não quer deixar o Chega a falar sozinho sobre o tema, tentando assumir o lugar da moderação entre o partido de André Ventura e o PSD. E seduzir o eleitorado preocupado com a segurança. O presidente dos liberais insistiu também que o lugar dos polícias "não é na secretária", mas "na rua", devendo as tarefas administrativas ser asseguradas por “funcionários administrativos” para libertar os agentes, saindo em defesa do reforço policial nas ruas.
Relativamente à imigração, reconheceu que o tema tem vários ângulos de análise, mas na visão da IL, a imigração em Portugal faz falta, mas tem que ser regulada, até para não sujeitar os cidadãos estrangeiros a fenómenos de exploração e redes de tráfico: "A posição da IL é clara, quem tem trabalho entra, quem cumpre a lei fica", vinca.
Já a descida da carga fiscal - uma das principais bandeiras liberais -, continuará a ser prioridade, com Rocha a defender que em matéria de IRS existem "duas grandes injustiças": quem tem mais de 35 anos continua a pagar quase os mesmos impostos” do que antes, enquanto, “quem começou a trabalhar cedo", chega aos 28 ou 29 anos e já não tem direito. "Primeiro há que corrigir a injustiça do IRS Jovem e de seguida lutar para que a descida de impostos seja para todos", adiantou.
De olho no Chega e na AD, Rocha declarou também a certidão de óbito às políticas identitárias e ao ‘wokismo’: “Paz à sua alma”, atirou, advogando ainda a liberdade de expressão. Uma posição que procura conquistar eleitorado à direita, mas que faz lembrar também discursos polémicos de ex-liberais da ala conservadora, como Nuno Simões de Melo - atualmente deputado do Chega -, que há dois anos na reunião magna afirmou que a IL “devia combater a deriva do liberalismo para causas woke, identitárias ou segregacionistas, adeptas do cancelamento e até do marxismo cultural”, palavras que não foram bem recebidas pelos liberais.
Quando confirmou a sua recandidatura à liderança, Rocha prometeu uma solução de “coragem” e “mudança” para o país. Mas a mudança começa também pelo discurso, com uma aposta mais arriscada, numa estratégia, que visa piscar o olho aos descontentes e ao eleitorado do Chega e da AD, numa disputa à direita. Já na campanha para as Europeias, tanto Rocha, como Cotrim admitiram que era preciso conquistar essas fatias de eleitorado para o partido crescer nas urnas.
Estado mais magro e a promessa da pacificação interna
Durante o seu discurso enquanto presidente reconduzido, Rui Rocha falou também para o seu eleitorado, apontando, por exemplo, para a “racionalização” do sector empresarial do Estado e a “redução” da Administração Consultiva do Estado, como bandeiras que a IL deve continuar a apostar.
Mas o presidente dos liberais lançou igualmente recados para dentro, assegurando que a IL está "unida" em torno de um programa político "praticamente consensual" e "de uma liderança", criticando aqueles que acusaram a IL de não ter curado as feridas profundas desde a última reunião. Sublinhou que sempre soube que esse “debate aceso” não correspondia a “qualquer fratura” no partido, nem a “divergências insuperáveis”, dando uma palavra a Rui Malheiro, que obteve 26,6% dos votos.
Apesar de não ser uma surpresa, disse que foi com "humildade" que recebeu a vitória e reconheceu que há "seguramente" questões a melhorar na IL. Para isso, promete olhar para as críticas e reparos e contar com os contributos dos membros eleitos dos novos órgãos nacionais. Sem apontar metas para os próximos atos eleitorais, assumiu, contudo, a "responsabilidade de fazer o partido crescer". O próximo teste será já na Madeira, no próximo dia 23 de março.
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