Rui Rio ataca Ministério Público: "Se os políticos não tiverem coragem de dizer basta, um dia alguém vai dizer chega"
Rui Rio
Ex-líder do PSD acusa PGR de ataque à democracia e má gestão de recursos, insiste em mudança no sistema de justiça e garante que não cometeu ilegalidades: “Não há uma coisa que é o grupo parlamentar e outra que é o partido, não são duas entidades distintas”
Rui Rio garante que não cometeu qualquer ilegalidade, considera que não há sequer “zonas cinzentas” na lei que regula as subvenções dos partidos e diz que aquilo que é preciso é mexer no sistema judicial. “Eu não fazia nada [na legislação]. A minha atuação era ao nível da justiça, senão o poder político está sempre a agachar-se. Se o Presidente da República, a Assembleia e os partidos não tiverem coragem de dizer basta haverá algum dia em que alguém vai dizer chega”, disse o ex-líder do PSD esta sexta-feira em entrevista à SIC.
Numa atitude muito crítica e muito ao seu estilo, Rui Rio lembrou como defendeu mudanças no sistema de justiça e acusou o Ministério Público de estar a fazer um ataque à democracia. “Ao atacar-me a mim, estão a atacar a democracia toda. Quando o Ministério Público dá a entender que são todos corruptos, é a democracia que estão a atacar e eu estou aqui a defender a democracia”, acusou Rio, cuja casa foi alvo de buscas na quarta-feira por suspeita de peculato e abuso de poder nos anos em que esteve à frente do PSD.
Em causa estará o facto de haver funcionários do partido que estariam a ser pagos por verbas que deveriam ser destinadas a funcionários do grupo parlamentar.
“Isto de que estamos a falar é uma prática transversal a todos os partidos desde sempre”, disse o ex-presidente do PSD durante a entrevista à SIC, onde defendeu que “não há uma coisa que é o grupo parlamentar e outra que é o partido, não são duas entidades distintas”. Por isso, questiona: “Se é uma prática transversal aos partidos há muito anos, por que é que só estão a investigar o PSD? E dentro do PSD, porquê entre 2018 e 2021 em que eu e só eu fui presidente do partido?”
A justificação, no seu entender, é uma intenção de dar a ideia de que todos os políticos são corruptos e de levar as pessoas que é assim mesmo se até ele, que prometeu “banhos de ética na política” e tem a imagem de homem sério, afinal, é suspeito de ilegalidades. E acusou o Ministério Público de usar a comunicação social para passar essa mensagem, adiantando que a TVI chegou à frente da sua casa ainda antes dos agentes judiciais.
Rio explicou como os partidos com mais de 50 mil votos recebem uma verba de subvenção por voto e, a acrescer a essa, os partidos com deputados eleitos recebem uma subvenção por deputado para despesas com estudos, assessores e outro trabalho político. “O grupo parlamentar é um órgão do partido. Estas verbas, umas e outras, são para utilização do partido. Quem trabalha no grupo parlamentar ou na sede, está a trabalhar para o partido”, justifica.
O ex-líder do PSD deu vários exemplos. “Se há um assessor para assuntos ambientais no grupo parlamentar, para que é preciso outro na sede?”, questionou. E lembrou como a sua assessora de comunicação, Florbela Guedes, que também foi alvo de buscas, tanto trabalhava na sede como no Parlamento, ganhando metade do salário de cada lado, como, aliás, acontecia com o anterior assessor do PSD, o histórico Zeca Mendonça. E nem por isso, acrescentou, estão a ser investigados ex-líderes como Cavaco Silva ou Marcelo Rebelo de Sousa.
"Ambas as verbas são despachadas pelo Presidente da Assembleia da República”, argumentou o ex-líder partidário, que chegou a acumular funções com as de líder parlamentar. Depois, “há uma obrigação dos partidos de gerirem estas verbas com rigor e com seriedade”, continuou Rui Rio, acusando o Ministério Público de não saber o que são critérios de gestão “quando mete 100 agentes na rua, pagos pelos impostos, para procurar nada”.