O diretor do Serviço de Medicina Física e Reabilitação do hospital Santa Maria afirmou esta sexta-feira que há um “enorme problema” no sistema de informação da rede nacional de reabilitação que esteve na origem da duplicação da prescrição de cadeiras de rodas elétricas às gémeas tratadas com Zolgensma. Segundo a TVI, o Estado gastou 58 mil euros na aquisição.
Na audição na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) desta sexta-feira, Francisco Sampaio explicou que nunca teve contacto direto com as crianças ou familiares, mas que estas foram seguidas no seu departamento após um pedido normal de um acompanhamento. O processo foi atribuído a um colega “mais ligado à área” e as crianças começaram a ser seguidas a 13 agosto de 2020.
Nessa primeira consulta, as crianças foram referenciadas para o Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão, onde foram acompanhadas simultaneamente ao abrigo de um protocolo.
Segundo o médico, estas crianças necessitavam de uma “parafernália de coisas que acompanhavam as crianças” e “provavelmente” teriam já cadeira de rodas. Contudo, “as crianças crescem” e esses produtos de apoio têm de ser adequados.
Assim, a mãe era “insistente” quanto à necessidade de produtos de apoio que foram sendo prescritos no Santa Maria e em Alcoitão. Foi nesse contexto que foram prescritas em ambas as unidades de saúde. “A mãe dizia que faltavam produtos de apoio e havia a tentativa de ajudar. Obviamente que se soubéssemos que tinha havido prescrição, não teria havido duplicação”, garantiu Francisco Sampaio.
O médico explica que a mãe não informou o Santa Maria que tinha já recebido as cadeiras de Alcoitão. Por outro lado, apesar de trabalharem em rede, o sistema de informação não permite ao Santa Maria ter acesso ao processo clínico ou quais as prescrições feitas em Alcoitão (que é tutelado pela Santa Casa da Misericórdia e não pelo Ministério da Saúde como Santa Maria). “É uma crítica recorrente que fazemos” e um “problema enorme” para o qual estamos “cansados” de alertar e que ainda não está resolvido.
Houve por isso uma “duplicação” de prescrições, da qual os serviços só se aperceberam mais tarde. Adquiridas as cadeiras (por 26 mil euros, segundo a TVI), houve uma “enorme dificuldade com números de telefone” para contactar familiares das crianças.
Quando a duplicação foi divulgada pela comunicação social, o diretor do Serviço de Medicina Física e Reabilitação decidiu não entregar as cadeiras adquiridas pelo Santa Maria e pediu “respaldo jurídico” e da administração para apurar qual o procedimento deveria seguir e a quem pertenciam as cadeiras.
As crianças viriam a perder direito às cadeiras prescritas pelo Santa Maria. Após período de análise, estas ficaram disponíveis para entrega a outros pacientes que delas necessitassem. Francisco Sampaio sublinhou que nunca tinha acontecido uma situação semelhante. “Foi a primeira vez. Colocou um problema inédito e um pouco complexo, porque tudo foi cumprido”, afirmou.
O acompanhamento Serviço de Medicina Física e Reabilitação do Santa Maria continuou até terem alta dos serviços de neuropediatria do mesmo hospital. À data, as crianças já não estavam em Portugal, tendo inclusivamente faltado à consulta onde deveriam ter recebido as cadeiras.
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