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"A prioridade foi comunicar": Governo defende-se das críticas e diz que usou todos os canais disponíveis

"A prioridade foi comunicar": Governo defende-se das críticas e diz que usou todos os canais disponíveis
José Fonseca Fernandes

Ministro da Presidência contraria críticas da oposição e diz que Governo usou todos os canais disponíveis para comunicar, começando pela rádio. Mensagem da Proteção Civil foi enviada durante a tarde, mas só chegou à noite. Pinto Luz admite falhas no SIRESP. Governo ainda não tem resposta definitiva sobre origem do apagão. Reunião com partidos às 14h

"A prioridade foi comunicar": Governo defende-se das críticas e diz que usou todos os canais disponíveis

Rita Dinis

Jornalista

Com a oposição a disparar críticas à forma como o Governo geriu o dia de ontem, em termos de comunicação ao país e de resposta imediata à crise, o ministro da Presidência e o ministro das Infraestruturas saíram em defesa do Executivo e afirmam que o Governo comunicou com o país assim que teve a primeira informação fidedigna e "usou todos os canais disponíveis" para o fazer. Sobre origem do apagão, o ministro da Presidência diz que ainda não há conclusões definitivas.

"Usámos todos os canais disponíveis: mal tivemos a primeira informação fiável do que podia estar em causa, pelo meio-dia, o governo comunicou através do ministro da Presidência com as rádios, e cerca de meia hora depois também com as televisões", explicou esta manhã o ministro António Leitão Amaro num balanço à Rádio Observador e à Antena 1, sublinhando que o primeiro-ministro também falou ao país, através da comunicação social, por volta das 15h, depois de ter reunido o Conselho de Ministros de urgência (a reunião começou pelas 13h e durou até à noite).

Segundo Leitão Amaro, o Governo comunicou quando pôde e como pôde, sendo que a prioridade foi assegurar que os hospitais funcionavam e que conseguiam abastecer-se de combustível para alimentar os geradores. "O primeiro-ministro voltou a falar à noite, e durante o dia usamos as redes sociais do Governo [a partir das 17h], a que algumas pessoas conseguiam aceder através de wifi e alguma rede móvel", continuou o ministro.

Quanto ao canal de mensagens da Proteção Civil que segue para os telemóveis de toda a população, e que é muitas vezes usado em caso de incêndios, por exemplo, o ministro diz que o Governo também recorreu ao envio de SMS da Proteção Civil "a meio da tarde", mas, devido aos problemas com as telecomunicações, a mensagem só chegou aos telemóveis da população à noite.

"O que se recomendava, perante o sistema que temos hoje, era usar todos os meios disponíveis: a comunicação social, nomeadamente a rádio, as redes sociais e o canal da Proteção Civil - foram todos os canais ativados e foram-no nas primeiras horas, não poderíamos multiplicar SMS na Proteção Civil. Fizemos o primeiro envio a meio da tarde conscientes de que podia haver problemas nas redes", continuou a explicar Leitão Amaro em declarações esta manhã à Rádio Observador.

Apesar de Luís Montenegro ter dito, durante a tarde, que estava em contacto com o líder do principal partido da oposição, Pedro Nuno Santos, os partidos queixaram-se de falta de informação e falta de contacto do Governo. Para esta terça-feira, às 14h, está marcada uma reunião, na Assembleia da República, entre o Governo e os partidos.

Também o ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, à SIC, disse que "ao contrário do que se diz, a prioridade do Governo foi comunicar". "O Governo esteve onde tinha de estar e comunicou o que tinha de comunicar", disse. Ainda assim, tanto Leitão Amaro como Miguel Pinto Luz dizem que há "lições a tirar". "A comunicação com a população deve ser analisada e devemos procurar melhorar para o futuro, é um trabalho que estamos a fazer e vamos fazer. Mas houve um esforço de comunicação imediato e permanente usando todos os canais", continuou o ministro da Presidência, lembrando que o Governo criou um grupo de trabalho para acompanhamento da situação, centralizado no Ministério da Presidência.

Pinto Luz rejeitou ainda o "passa-culpas permanente" e ensaiou o argumento de que a "culpa" pela falha do sistema elétrico e falhas no SIRESP não pode ser imputada ao Governo que "só está lá há 11 meses". "Quando acontecem estas coisas, temos de aprender. O SIRESP não funcionou a 100%, teve falhas. Mais uma vez. Andamos há décadas a falar do SIRESP e o SIRESP teve falhas", disse o ministro das Infraestruturas na SIC, deixando críticas implícitas aos governos anteriores. Mais: Pinto Luz diz ainda que é "importante pensar na resiliência das infraestruturas em Portugal", sobretudo numa altura em que a Europa vive um período crítico em termos geopolíticos.

Origem do apagão ainda por explicar

Certo é que ainda não há respostas definitivas sobre a origem do apagão. Pinto Luz explica que Portugal estava a comprar energia a Espanha, neste momento, porque era "mais barata", e é assim que "funciona em toda a Europa". "Vivemos num mercado liberalizado, onde Portugal, e bem, adquire energia sempre que ela é mais barata. Portanto, estamos interligados com Espanha, como Espanha está interligada com França. A Europa funciona assim e o mundo todo funciona assim", afirmou em entrevista à SIC Notícias, realçando que esta terça-feira Portugal está a "trabalhar só com energia produzida no país". Também o consumo de combustíveis, que ontem esteve limitado para garantir que chegava aos hospitais e unidades de saúde, já está normalizado e sem restrições.

Segundo Pinto Luz, o que aconteceu foi que "a luz foi abaixo", como acontece nas casas das pessoas quando o quadro dispara devido a alguma sobrecarga. "Nós nas nossas casas, quando ligamos um aparelho que consome muita corrente e a nossa contratualização com a rede não está disponível, o disjuntor dispara. Foi este desequilíbrio que aconteceu ontem na rede", disse, sem avançar explicação para "o quadro ter disparado". Sabe-se apenas que a falha aconteceu em Espanha - a quem Portugal estava a comprar energia.

Ainda assim, segundo Leitão Amaro, a situação de "crise energética" vai manter-se até ao final do dia de hoje. "Este é um processo delicado em termos técnicos e a estabilização tem de ser feita com cuidado. A REN está a fazer acompanhamento cuidado e gradual, as cautelas mantêm-se. Não há necessidade de restrições de consumo, nem de combustíveis, mas é preciso manter a cautela", explicou.

Sobre a origem, ainda nada. "Ainda nada que nos permita avançar com conclusões definitivas. A origem terá sido em Espanha, não temos em Portugal informação de que tenha havido uma fonte de ataque. Não temos evidência de um ato ofensivo", disse. A hipótese de ciberataque não está, portanto, descartada, mas não há indícios de que tenha sido essa a causa do apagão ibérico, que teve origem em Espanha.





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