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Marques Mendes: o alegado choque fiscal “representa um dano sério na reputação e credibilidade do Governo”

Marques Mendes: o alegado choque fiscal “representa um dano sério na reputação e credibilidade do Governo”
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Ex-líder do PSD e comentador da SIC salienta que “houve muito amadorismo” na gestão deste dossier por parte do executivo liderado por Luís Montenegro. “Não é dramático. Mas não é brilhante”

Marques Mendes: o alegado choque fiscal “representa um dano sério na reputação e credibilidade do Governo”

Hugo Franco

Jornalista

No seu habitual espaço dominical de comentário na SIC, Luís Marques Mendes deu destaque ao caso político do fim de semana: o do alegado choque fiscal anunciado pelo novo Governo liderado por Luís Montenegro. E não poupou o executivo da AD: “Tivemos o primeiro caso ou casinho da era Montenegro. O Governo não esteve bem. Claro que não mentiu. Mas também não foi claro. Criou e alimentou a ambiguidade”, começou por explicar.

“Vejamos: o primeiro-ministro, no seu discurso, fala em alívio fiscal total de 1,5 mil milhões de euros face a 2023. Ora, se o alívio fiscal é face a 2023, tinha de incluir os 1,3 mil milhões decididos pelo Governo PS. Se se tratasse de somar 1,5 mil milhões de euros ao valor anterior, o país já não teria excedente. Voltaria a ter défice. E isso não podia suceder. Mentira não houve, pois.”

Para Marques Mendes se o Governo não mentiu, “também é verdade que criou ambiguidade e não corrigiu a ambiguidade”. Isto porque Luís Montenegro falou em 1,5 mil milhões de euros face a 2023. "Em bom rigor, devia ter falado em mais 200 milhões, a somar aos 1,3 mil milhões do Governo PS. “Mais tarde falou o Ministro das Finanças. E a versão não se alterou.”

O comentador realça que “toda a gente” ficou com a ideia de que o alívio fiscal era de 1,5 mil milhões de euros, a somar aos 1,3 mil milhões de euros anteriores. “Os portugueses não são economistas nem andam com o OE debaixo do braço. Vão pela impressão que se gera.”

E lembra: “A própria manchete do Expresso dizia isso mesmo: que havia duplicação do alívio fiscal. E ninguém desmentiu o Expresso.”

Conclusão para Marques Mendes: “Tudo isto representa um dano sério na reputação e credibilidade do Governo. Houve muito amadorismo. Não é dramático. Mas não é brilhante.”

Costa, Passos Coelho e ataque do Irão

Três outros assuntos que dominaram a semana foram também dissecados por Marques Mendes.

A investigação judicial ao ex-primeiro ministro António Costa que desceu do Supremo Tribunal de Justiça para o DCIAP. “António Costa deixou de ser primeiro-ministro e passou a ser um cidadão como qualquer outro. Mesmo assim, os juristas dividem-se.”

O comentador lembra que o que importa não é a dimensão jurídica da questão. É antes a perceção da opinião pública. “E, neste plano, a imagem que passa do MP para a opinião pública é completamente desastrosa.”

“Primeiro, ninguém percebe que, num caso desta delicadeza, o MP não dê uma explicação. Não se pede que viole o que é segredo de justiça. Mas pede-se que explique: por que é que o comunicado de 7 de Novembro teve de ser feito; por que é que, passados cinco meses, António Costa não foi sequer interrogado; por que é que, passado todo este tempo, nada de relevante aconteceu”, critica.

“Segundo, não havendo qualquer explicação, a sensação que fica é que o caso não tem qualquer relevância e, por isso mesmo, o MP anda a “empatar” jogo. Isto pode ser certo ou errado, mas é a perceção da opinião pública. E o MP, não dando uma explicação, é o único responsável pela consolidação desta imagem.”

Marques Mendes considera que a “Justiça em geral e o MP em particular continuam a comunicar como no século XIX”.

Ainda na ressaca do lançamento do livro de Pedro Passos Coelho, o comentador defende que o ex-primeiro ministro social-democrata “tem todo o direito a emitir as suas opiniões” e “não é um homem de extrema-direita, como algumas vezes se insinua”. E resume: “Não concordo com algumas ideias de menorização das mulheres no livro. Mas, 50 anos depois do 25 de Abril, todas as opiniões merecem ter palco.”

Já sobre a sua proximidade com o Chega, Marques Mendes diz que “toda a gente sabe que Passos Coelho tem, em relação ao Chega, uma opinião diferente da de Luís Montenegro”. Se por um lado Passos Coelho “tem direito a tê-la e a exprimi-la”, o que considera ser questionável “é fazê-lo agora, quando o Governo acaba de tomar posse, quando está sob pressão e quando tem um caminho muito estreito pela frente. Isso, sim, é questionável. Primeiro, porque gera um ruído que é mau para Montenegro; segundo, porque dá palco ao Chega, o que também não favorece o primeiro-ministro”.

Sobre o ataque do Irão a Israel com drones e mísseis este fim de semana, Marques Mendes salienta que não teve “consequências de monta”, demonstrando a “grande capacidade de defesa israelita, com apoio expresso dos EUA”. E conclui: “O foco agora é evitar a escalada do conflito, num contexto regional já extremamente grave e preocupante. O pior que podia sucedeu era avançarmos para um conflito regional.”

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: HFranco@expresso.impresa.pt

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