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Costa lança concurso do TGV com elogios ao "grande consenso político" e um recado a Pedro Nuno: "Por vezes, é preciso parar"

Costa lança concurso do TGV com elogios ao "grande consenso político" e um recado a Pedro Nuno: "Por vezes, é preciso parar"
TIAGO PETINGA/LUSA

Primeiro-ministro defende reforço do setor das Obras Públicas e diz que foi preciso “descontaminar” o processo da alta velocidade

Costa lança concurso do TGV com elogios ao "grande consenso político" e um recado a Pedro Nuno: "Por vezes, é preciso parar"

Eunice Lourenço

Editora de Política

Houve um tempo em que foi preciso parar, um tempo de fazer silêncio e só agora avançar para o concurso do primeiro troço de alta velocidade, com o consenso político que o primeiro-ministro achou necessário e que conseguiu alcançar já em gestão. Foi com esta reflexão e salientando várias vezes o “consenso alargado" que António Costa apresentou esta sexta-feira o concurso para o início da construção de linha de TGV entre Lisboa e Porto.

“Desta vez era importante construir um consenso politico”, começou por dizer, no Pragal, junto a Almada, onde apresentou o concurso para o primeiro troço. Lembrou como já houve um primeiro concurso (lançado no tempo de José Sócrates), que depois foi cancelado pelo Governo seguinte, com Portugal a ter de pagar uma indemnização ao consórcio vencedor. E prosseguiu, com uma reflexão, que tem um recado para o seu sucessor na liderança do PS, que tanto se tem apresentado como o homem que decide por oposição a outros a arrastam os pés: “Muitas vezes para que os consensos políticos sejam possíveis é preciso parar - alguns acharão que estamos a atrasar, outros acharão que estamos a descontaminar um tema que envolvia um debate tóxico e a eliminar estigmas – e depois, então, avançar.”

Foi Pedro Nuno Santos, então ministro das Infraestruturas, que iniciou este processo. E agora é António Costa, que, desde a saída de João Galamba, acumula a pasta das Infraestruturas, que lança o concurso. “Houve um tempo em que tive de gerir o silêncio e devo dizer que esse silêncio se revelou muito produtivo”, disse António Costa, que já na fase final do discurso situou esse tempo de não falar sobretudo na altura em que foi Pedro Marques o titular da pasta (2015-2019).

Quanto a Pedro Nuno, o primeiro-ministro citou-o como “grande construtor deste processo”. E também agradeceu a João Galamba, “que continuou esse trabalho e o conduziu" até sair do Governo, em novembro, e ser Costa a assumir uma pasta com a qual, contou, já tinha sonhado em 1995, quando terá sido colocada a hipótese de ser secretário de Estado das Obras Públicas.

“Desta vez era importante construir um consenso politico”, disse Costa, lembrando como lança este concurso com uma recomendação da Assembleia da República para que o faça, que não teve votos contra. E que, além disso, também recomenda que sejam dados os passos seguintes relativos a estudos de avaliação de forma a que “no início do próximo semestre seja lançado o concurso da próxima fase” deste projeto.

Não há qualquer dúvida sobre o grande consenso político que este projeto envolve” reforçou o primeiro-ministro, para quem esse consenso é um “sinal de grande maturidade da nossa democracia”.

António Costa quis manifestar “solidariedade à IP e às empresas portuguesas na área das obras públicas pelo enorme esforço que foi responder ao Ferrovia 2020” e considera que esse esforço dará frutos. “Temos hoje as condições para nos lançarmos numa obra deste dimensão sem que isso nos obrigue a excluir as empresas portuguesas da capacidade de poderem concorrer e ganhar este concurso. É evidente que vivemos na União Europeia, o mercado é aberto, concorrencial e todos têm iguais oportunidades de vencer. Pelo menos, é assim em Portugal, embora não seja assim em todos os países, mesmo aqueles que nos estão mais próximos, onde, sendo a legislação a mesma, se verifica sempre a coincidência de só ganharem as empresas nacionais. Mas nós temos um espírito universalista, cosmopolita, aberto e, por isso, não colocamos obstáculos à livre concorrência”, afirmou, defendendo que é “importante” continuar a reforçar as empresas de obras porque “não há nenhum país que se modernize sem um forte setor de construção civil e obras públicas”.

Perante sinais do secretário de Estado, que estava à sua frente e manifestando muito boa disposição, Costa ainda acrescentou: “Oh sr. secretário de Estado, sei que é politicamente incorreto, mas já cheguei a uma fase da vida em que posso dizer coisas politicamente incorretas.”

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