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Legislativas 2025

O que uniu e o que afastou Montenegro e Pedro Nuno?

Legislativas 2025- Debate entre Luis Montenegro e Pedro Nuno Santos.
Legislativas 2025- Debate entre Luis Montenegro e Pedro Nuno Santos.
Nuno Fox

Com críticas acesas de parte a parte, sobre a empresa de Luís Montenegro e a revelação de última hora dos clientes pontuais, no frente a frente entre os dois candidatos a primeiro-ministro houve alguns pontos onde PS e AD não discordaram tanto assim: querem mais construção pública na habitação, sistema de pensões não é para privatizar e, desta vez, ninguém se compromete com prazos para médicos de família

O que uniu e o que afastou Montenegro e Pedro Nuno?

Rita Dinis

Jornalista

A pouco mais de duas semanas das eleições, Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos encontraram-se no único frente a frente da campanha eleitoral e, mais do que um debate de ideias sectoriais ou de formas de garantir a estabilidade governativa, tiveram um debate em torno do caráter de cada um. Sectorialmente, saúde, pensões, impostos e habitação foram os temas mais abordados. No meio de tanta discórdia, há algo que os une ou é tudo o que os separa?

Gestão da crise: O que faria Pedro Nuno Santos de diferente?

Pedro Nuno Santos até elogiou a REN por ter respondido de forma rápida na reposição do sistema elétrico e aí aproximou-se de Luís Montenegro, mas criticou o governo pela coordenação e comunicação com o país. Perante uma situação "inédita e inesperada" como a vivida na segunda-feira, o secretário-geral socialista disse que teria feito uma gestão diferente e teria convocado o Sistema de Segurança Interna, não teria deixado os autarcas sozinhos e teria aproveitado a janela de oportunidade, enquanto havia rede móvel, para disparar a mensagem da Proteção Civil para os telemóveis dos portugueses a anunciar que a comunicação iria ser feita pela rádio, de hora a hora. Não explicou que comunicação seria essa, nem quem a faria. Criticou o Governo por ter acionado esse meio tarde, por ter ativado a rede de abastecimento de combustíveis só às 20h30 e pela ausência das ministras da Administração Interna e do Ambiente. Montenegro respondeu com o que esteve à vista: não morreu ninguém, ao contrário do que aconteceu em Espanha.

Economia: Divididos na estratégia

Pedro Nuno Santos insistiu na proposta do IVA zero e numa política fiscal que baixa os impostos que “toda a gente paga”. "Não prometemos tudo a todos, mas aquilo que prometemos é de facto para todos", afirmou o secretário-geral do PS. Por outro lado, a redução do IRS e do IRC são as prioridades para a AD, mas Luís Montenegro não se alongou sobre a política fiscal do programa eleitoral. Concordam que é preciso baixar o esforço fiscal, mas discordam em tudo o resto.

Na economia, foi tudo o que os dividiu, ainda que ambos defendam como princípio o crescimento económico e a política de rendimentos. Divididos na estratégia para a economia, ns previsões macroeconómicas, o socialista acusou o adversário de ter um programa eleitoral que é um “embuste”, e mostrou uma folha com uma tabela de previsões de crescimento diferentes das que o Governo apresentou em Bruxelas, acusando-o de ter "duas faces". Luís Montenegro contestou, acusando Pedro Nuno Santos de lançar uma "confusão propositada” e explicou que as previsões apresentadas em Bruxelas não têm em conta o impacto das medidas do Governo. Se o PS tem uma política de mera “distribuição”, Montenegro disse que a AD tem uma política assente no investimento para promover o crescimento económico. O PS aposta na baixa de impostos transversais sobre o consumo, AD aposta na baixa dos impostos sobre o trabalho (IRS e IRC).

Pensões: Afinal, ninguém quer privatizar. Pelo menos "nesta legislatura" não

É um ponto fulcral para ambos os lados: o PS que segurar os pensionistas e a AD quer reconquistá-los e por isso ambos concordam que é preciso continuar a aumentar as pensões. Mais uma vez, o que os divide é o como. Também concordaram que não haverá privatização da Segurança Social.

Pedro Nuno Santos foi para o debate apostado em vincar as diferenças neste ponto: enquanto a AD propõe bónus para os pensionistas que não incorpora o valor da pensão, apenas se a conjuntura económica o permitir, limitando-se a cumprir a lei no aumento das pensões em função da inflação, o PS propõe aumentos extraordinários das pensões todos os anos. Luís Montenegro sublinhou que não é bem assim, porque a AD propõe aumentos para as pensões mais baixas. A tensão maior ocorreu quando Pedro Nuno Santos se comprometeu a acabar com o grupo de trabalho criado pelo Governo para pensar o sistema de pensões, cujo presidente, Jorge Bravo, defendeu a privatização parcial do sistema de pensões, e acusando o Governo de se estar a preparar para essa privatização, Montenegro deixou uma promessa: não fará qualquer privatização do sistema de pensões "nesta legislatura". Ou seja, se o fizer algum dia será sempre depois de o assumir em campanha eleitoral e no programa eleitoral - o que não aconteceu agora.

Saúde: Ninguém se compromete com metas para médicos de família

É um dos temas mais críticos para o atual Governo, que há um ano elevou a fasquia ao prometer soluções rápidas para problemas difíceis, mas os dois têm telhados de vidro. Se António Costa já tinha falhado a meta de atribuir um médico de família a cada utente, Luís Montenegro voltou a falhar e, desta vez, não se compromete com prazos para o conseguir - nem Pedro Nuno os arrisca.

Já sobrre PPP, Pedro Nuno não as rejeitou por completo, dizendo não ter "dogmas" ideológicos, mas preferindo o caminho da maior autonomia dos hospitais em vez da gestão privada, dizendo que vai avaliar a decisão do Governo, não conretizada, de privatizar centros de saúde. Ambos querem fixar médicos no SNS, com carreiras valorizadas e mais atrativas.

Habitação: isenções para jovens mantêm-se e solução está na construção

Numa área onde Pedro Nuno teve responsabilidades diretas, depois de ter sido ministro com a pasta da Habitação, Montenegro apostou em criticar a herança que recebeu nesta matéria. Mas quanto a soluções concretas para resolver um problema que ambos admitem ser um dos "dramas nacionais" da atualidade, um como outro falaram em aumentar a construção pública, privada e cooperativa de habitação. "Não há outra solução", disse Pedro Nuno. Montenegro tinha defendido "colaboração no mercado" para não afunilar a construção. Mesmo criticando a medida do Governo de isentar os jovens do pagamento de IMT e imposto de selo na compra da primeira habitação - por considerar que está a fazer disparar os preços -, Pedro Nuno reiterou que não tenciona reverter a medida.

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