A distribuição dos lugares na Assembleia da República (AR) para a nova sessão legislativa costuma ser tudo menos pacífica. Com os resultados das eleições legislativas a mudar amplamente a configuração do Parlamento, foi preciso reestruturar os lugares dentro do hemiciclo, mas também a distribuição dos espaços de trabalho dentro do Parlamento. Um dia antes da primeira sessão da nova legislatura, Augusto Santos Silva veio, na sua última intervenção após a conferência de líderes, comunicar os resultados da Conferência de Líderes onde se incluiu o novo puzzle parlamentar. Para agradar a todos, o presidente da AR demissionário comunicou que todos os grupos parlamentares terão direito a, pelo menos, um lugar na fila da frente do hemiciclo. Uma decisão “consensual”, garantiu o socialista que não conseguiu ser eleito pelo círculo de Fora da Europa.
Apesar das resistências do PS e do PSD em ceder os seus lugares na primeira fila do Parlamento, a verdade é que se abriu espaço para os partidos que ampliaram a sua representação parlamentar, como o Chega e o Livre, e para os que voltaram ao parlamento depois dos resultados desastrosos de 2022, como o CDS. Também se sabia que nem o Bloco de Esquerda nem o PCP tinham vontade de abdicar dos seus lugares na frente do hemiciclo e ambos conseguiram evitar mexidas – mesmo com o tombo eleitoral dos comunistas que viram a sua bancada parlamentar reduzir de seis para quatro deputados, o mesmo número que o Livre conseguiu eleger.
Assim, tanto Bloco como o PCP conseguiram manter os mesmos dois lugares na fila da frente e viram o Livre, que não tinha direito a entrar na corrida por não ter grupo parlamentar, ganhar os mesmos dois lugares equilibrando todos os partidos à esquerda do PS. Já o PS viu a sua bancada parlamentar perder 40 deputados e restou-lhe apenas cinco lugares na frente do hemiciclo.
À direita, a vitória pouco expressiva da AD deu direito aos mesmos cinco lugares que os socialistas na montra do parlamento. Depois de não ter conseguido alcançar a meta de engordar a bancada parlamentar, a Iniciativa Liberal não conseguiu reclamar mais do que os dois lugares na frente que já lhe tinham sido atribuídos nas eleições de 2022. Já o crescimento exponencial do Chega permitiu-lhes ganhar mais representatividade também na primeira fila do parlamento, passando de três para quatro lugares. Outra das principais novidades desta nova sessão legislativa é o regresso do CDS ao Parlamento. Graças a esta distribuição que garante a inclusão de todos os grupos parlamentares na frente, também o partido liderado por Nuno Melo irá ter um dos seus elementos na fila mais disputada do hemiciclo.
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