Rodrigues dos Santos critica “subalternização” de CDS na AD e quer ver partido mais “ao centro”
ANDRÉ KOSTERS
Francisco Rodrigues dos Santos, com quem o CDS foi a eleições em 2022 e ficou sem representação na AR, considerou em entrevista à CNN que Montenegro deve abrir o diálogo parlamentar ao Chega. Antigo presidente dos centristas critica Nuno Melo por não abrir o partido à diversidade. Vem aí um regresso? “Não fecho essa porta, mas também não abro”
Francisco Rodrigues dos Santos, que presidiu ao CDS de 2020 a 2022 e que ficou conhecido pela alcunha “Chicão”, vê o atual quadro político “como um donut”: “As franjas preenchidas, mas ao centro um grande buraco. É esse espaço que o CDS deve preencher.” Foi em entrevista à CNN Portugal, este sábado, 16 de março, que o antigo líder do partido deu conta do que acredita ser o futuro necessário: ir caminhando da direita para o centro.
Hoje a exercer advocacia, Rodrigues dos Santos muito criticou o seu sucessor, Nuno Melo, na entrevista (embora não o nomeando), e deixou mesmo um caminho para o partido: “O CDS deve regressar à matriz, à origem. CDS significa Centro Democrático Social. Se calhar, um posicionamento mais ao centro, que faça uma convergência entre as preocupações sociais, as preferências pelos mais vulneráveis e pobres, um Estado social forte, e economia social de mercado, livre, que dê autonomia.”
Um “posicionamento” do partido que Rodrigues dos Santos dá antes do Congresso do partido, agendado para os dias 20 e 21 de abril, em Viseu. É lá que espera ver discutido o que vai distinguir pela frente o partido, algo que acredita que não existe atualmente.
ANTÓNIO PEDRO SANTOS
AD e a quase “fusão”
“Assistimos a uma subalternização do CDS, e quase uma fusão entre os dois partidos”, atacou Rodrigues dos Santos na CNN.
A AD, com 79 deputados eleitos (três dos quais na Madeira, apenas com união do PSD e CDS), mereceu reparos do antigo presidente do partido: Francisco Rodrigues dos Santos acredita que o CDS está “algo diluído no PSD ao ponto de, para muitos eleitores do centro-direita, ser irreconhecível a marca que o CDS aportou no quadro desta aliança, e até a margem de votação líquida que acrescentou a este resultado”.
À CNN, Francisco Rodrigues dos Santos saudou a eleição dos dois deputados do CDS (Nuno Melo e Paulo Núncio), os únicos que tinham a eleição garantida tendo em conta os lugares em que tinham sido colocados. “É bom”, mas aproveitou para atirar ao antigo eurodeputado: “O presidente tinha previsto entre 4 a 6.” Ainda assim, é um regresso ao partido, conseguida pela coligação com o PSD e PPM na Aliança Democrática, que recupera os dois anos em que o CDS ficou sem representação parlamentar, que aconteceu na liderança de “Chicão”.
O antecessor de Nuno Melo à frente do CDS considerou ainda que a campanha “não correu bem à AD”, porque foi uma “vitória com sabor a empate” e “um desfile de protagonistas do passado que foram sinalizados dos votos de não queremos mais do mesmo”. Paulo Portas esteve na campanha da AD.
Nuno Melo e Luís Montenegro
Ana Baiao
Como deve ser a atuação da AD
Para a frente, Rodrigues dos Santos considera que a AD (cuja “dramatização ao voto útil não resultou”) deve falar com o Chega no Parlamento. “Defendo que no Parlamento todos devem falar com todos, não se deve excluir o voto pela origem”.
O centrista diz mesmo que “a melhor forma de lidar com partido não é tirar-lhe responsabilidades, é chamá-lo à responsabilidade”, é ele “comprometer-se com uma política concreta”, e “não vender utopias às pessoas”.
E nesse diálogo Francisco Rodrigues dos Santos, agora adepto do CDS ao centro, diz que a “AD devia fazer um diálogo estruturado com o PS”. Até elogiou a frase de Pedro Nuno de o tempo da tática política ter acabado, e atacou Rui Rocha por não ter garantido ainda uma parceria com o PSD ("o Rui é rocha, mas as convicções são de palha").
ANTÓNIO COTRIM/LUSA
O silêncio e o presente
Esta foi a primeira entrevista que Rodrigues dos Santos deu ao fim de dois anos, como começou a sublinhar na entrevista à CNN, porque queria, com o “silêncio”, não interferir na liderança. “O que não tiveram a cortesia de não fazer comigo”, disse. Foi a primeira coisa que disse, como tinha sido também das suas últimas declarações em 2022: “O fogo amigo mata.”
Sobre não ter integrado as listas para o Parlamento, “Chicão” desdramatizou – mas atacando Melo. “Não fico minimamente amargurado por não ter sido incluído. Todos os sinais que o presidente do partido deu desde a sua eleição nunca foram no sentido de incluir a diversidade dentro do CDS, sobretudo uma grande maioria de militantes que eram afetados à liderança que eu exerci.”
Não é novidade, Rodrigues dos Santos tinha estado já afastado dos encontros que o partido promoveu na definição da estratégia (incluindo para as legislativas antecipadas).
O futuro
Em 2022, tinha dito que não iria fazer ao sucessor o que lhe fizeram, mas, agora, em 2024, após as legislativas antecipadas, deu uma entrevista em que criticou a atuação de Melo. “Não vou andar por aí porque estive sempre aqui e vou continuar por aqui”, dissera, então.
Agora, questionado pela CNN Portugal sobre se a vida política já ficou para trás, Rodrigues dos Santos deixou as hipóteses em aberto: “Não fecho essa porta, mas também não abro”. Foi pai, dedica-se à advocacia, está a tirar uma nova licenciatura em Psicologia: “a minha vida está preenchida e realizada”, disse, deixando uma salvaguarda: “Continuo a interessar-me pelo país.”