Pessimista em relação ao impacto interno das múltiplas guerras e crises externas, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, fez este sábado, 9 de março, um apelo ao voto, num discurso focado na degradação da situação internacional.
No Palácio de Belém, em Lisboa, numa declaração que quebra o usual silêncio político do dia de reflexão, o chefe de Estado, dando ênfase à descrição do contexto internacional, exortou os cidadãos a acorrerem às urnas no domingo, com especial reforço para os que já há muito estão arredados da participação em eleições.
“Portugueses, em tempos assim, nos quais as guerras económicas e sociais que esperaríamos ultrapassadas pela pandemia, é nesses tempos que mais importa votar. É nestes instantes que mais importa votar. Tal como para os muitos que se afastaram, se cansaram, e desiludiram, é nos momentos mais graves como estes que mais importa votar”, disse.
A abstenção eleitoral alcançou os 48,6% nas Legislativas de 2022, escrutínio em que até houve um aumento da participação eleitoral. Foi nesse ato eleitoral que se interrompeu a trajetória de queda do número de eleitores iniciada em 2002: votaram 5.563.497 eleitores em 2022, acima da participação de 2019 e de 2015.
Em 2019, a abstenção nunca fora tão alta: mais de metade dos eleitores decidiu não exercer o seu direito de escolha, com uma taxa de abstenção recorde de 51,4%.
O chefe de Estado recordou ainda que este ano se celebram os 50 anos da Revolução dos Cravos, “e 49 do primeiro voto direto de todas as mulheres e homens com mais de 18 anos em séculos de vida em Portugal”. Em 2024, “fecha-se um ciclo de meio século da nossa história, e abre-se outro”, disse, “mas sempre com os mesmo valores: democracia, liberdade e igualdade”.
“Tudo com a certeza de que ninguém, pessoa ou instituição, pode substituir, ou sequer condicionar, o sentido final da vontade popular”, sugeriu.
Isto “porque os tempos são muito difíceis lá fora, e por isso, cá dentro”, reconheceu, e há urgência na decisão: “um voto desperdiçado nunca é compensado por um voto mais tarde porque o tempo não pára e muito menos volta para trás”.
“Só o vosso voto é a palavra final e não é a vontade de mais ninguém no nosso país. É a vossa vontade, é o vosso voto. Por tudo isto, e ainda por ser este o momento de dar nova vida em estabilidade e em segurança à nossa liberdade, igualdade e à nossa democracia, apelo ao vosso voto a pensar no vosso futuro, dos vossos filhos e dos vossos netos”, concluiu.
Situação internacional e economia
Marcelo comparou as expectativas dos eleitores na campanha para as legislativas de 2022 com as deste ano para expressar a necessidade dos cidadãos exercerem o seu direito de voto no domingo, perante um mundo turbulento além-fronteiras.
“Olhando para estes meses é possível encontrar muitas semelhanças entre o que dominou as eleições de 2022 e o que domina as eleições de 2024”, disse o chefe de Estado. As preocupações são similares, elencou: a recuperação da economia e a recuperação do poder de compra e resolução de problemas sentidos nas áreas como a saúde e habitação.
Uma preocupação “não expressa era aquilo que então, no apelo ao voto, chamei de agravamento das tensões internacionais. Por outras palavras, o medo que a paz falhasse e que a guerra atingisse a Ucrânia”.
Vinte e quatro dias depois das eleições de 2022, a invasão da Ucrânia pela Rússia transtornou as perspetivas de recuperação face à pandemia, antecipadas na altura. “Hoje, as três grandes preocupações são muito semelhantes às de 2022: duas expressas, uma terceira pensada por todos e falada por muito poucos: uma, a urgência de acelerar a recuperação da economia, sacrificada pela guerra de 2022, reiniciada em 2023 e agora à espera do que se passa no mundo”.
“A outra, os efeitos desse compasso de espera povoado pelas guerras, na saúde, na habitação, noutras áreas sociais, para os mais jovens sobretudo o desemprego, para os menos jovens, sempre a garantia futura das pensões e das reformas”, sugeriu.