“Um espectro ensombra a Europa”, escreveram Marx e Engels em 1848. A primeira frase do histórico “Manifesto Comunista” não perdeu atualidade, mas o “espectro”, agora, chama-se China, e a Europa deixou de ser o centro do mundo.
Outrora pobre e isolada, a China é hoje o maior parceiro comercial de mais de 120 países, desde a Austrália ao Brasil. A lista inclui o Japão e a Coreia do Sul, dois aliados cruciais dos Estados Unidos na Ásia-Pacífico, o novo centro do mundo e o principal palco da rivalidade sino-norte-americana.
Em Washington, líderes dos dois partidos que se revezam no poder encaram a ascensão da China como “a maior ameaça” à sua hegemonia. Para a Europa, é um “paceiro”, um “concorrente” e um “rival” — as três coisas ao mesmo tempo, conforme os interesses de cada país e o estado do planeta. Nos anos 70 e 80, foi um “aliado estratégico” contra o inimigo comum, a União Soviética; depois, a “fábrica do mundo”; e, após a crise financeira de 2007/08, o “motor da recuperação económica global”.
Estados Unidos e China estavam então no “mesmo barco” e remavam na “mesma direção”, disse Hillary Clinton em Pequim, em 2009. No primeiro ano da Era Obama, a speaker do Congresso, Nancy Pelosi, também se deslocou à capital chinesa: “Estamos aqui para ouvir. Temos de aprender uns com os outros para podermos avançar”. Enquanto os Estados Unidos e a Alemanha entravam em recessão, a economia chinesa crescia acima dos 9%. “Anos de fartura”, diria o romancista Chan Koonchung. “A economia global entrou em crise e a Idade de Ouro da Ascensão da China começou”.
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