Na primeira ida a Bruxelas após as europeias, o recém-eleito João Cotrim de Figueiredo acusou o Governo de privilegiar a nacionalidade de António Costa em vez da sua utilidade para o projeto europeu com o apoio anunciado, que apelidou de “paroquial”. Já Sebastião Bugalho rejeitou "entrar em debate" com o liberal sobre as críticas ao apoio da AD, afirmando que há um "princípio de reciprocidade".
Apesar da tomada de posse estar marcada apenas para 16 de julho, os dois novos eurodeputados (assim como Marta Temido) estão esta terça-feira em Bruxelas para um primeiro contacto com a instituição. E foi a partir de lá que trocaram palavras sobre a possível escolha do anterior primeiro-ministro para o Conselho Europeu.
"Estão a privilegiar a nacionalidade em relação à utilidade. Acho que é paroquial, desculpe que lhe diga, quando a nacionalidade das pessoas conta mais do que as suas ideias. Podemos ter uma pessoa com ideias absolutamente inaceitáveis e só porque é do nosso país ser apoiada. Não faz sentido", disse João Cotrim de Figueiredo no Parlamento Europeu. O antigo presidente da Iniciativa Liberal considerou que o ex-primeiro-ministro António Costa "não gosta de mudança", por isso, "não serve ao projeto europeu".
A proximidade entre o Presidente francês, também um liberal, e António Costa, é conhecida, quem em várias ocasiões enalteceu as capacidades de diálogo do ex-primeiro-ministro português. O chanceler alemão, Olaf Scholz, já demonstrou apoio a António Costa, se o ex-secretário-geral socialista avançar. Alemanha e França costumam estar concertados nesta decisão, pelo que é expectável um endosso de Emmanuel Macron.
Mas João Cotrim de Figueiredo pediu que todos os liberais sejam "suficientemente coerentes" e rejeitassem uma pessoa que "não tem uma postura liberal sobre o futuro da Europa". "Tinha muita pena se os outros liberais não pensassem dessa forma", reconheceu, acrescentando que vai tentar influenciar a decisão do Renovar a Europa, grupo político liberal, nesse sentido.
Já Sebastião Bugalho preferiu não responder. “Eu não vou entrar em debate com o João Cotrim de Figueiredo na primeira chegada ao Parlamento Europeu, nem tenho de entrar em resposta aos deputados liberais portugueses, com quem ansiamos trabalhar”.
O eurodeputado independente eleito pela Aliança Democrática disse perceber "a antipatia de João Cotrim de Figueiredo com António Costa, com quem tantas vezes debateu na Assembleia da República", mas disse estar no Parlamento Europeu para "olhar para a frente e não para trás".
Sebastião Bugalho afirmou que o apoio a António Costa como sucessor a Charles Michel no Conselho Europeu segue um "princípio de reciprocidade". "António Costa, quando foi eurodeputado português [foi também vice-presidente do Parlamento Europeu], votou favoravelmente a eleição de José Manuel Durão Barroso para presidente da Comissão Europeia. Nesse sentido, a reciprocidade é um sentimento português, que nós vamos colocar em prática neste caso", completou.
O eurodeputado eleito acrescentou que "o apoio dos liberais poderá ser necessário num conjunto de soluções que serão positivas para os portugueses", pelo que disse ser importante evitar "criar falsas clivagens" e negligenciar o contributo dos liberais durante a próxima legislatura.
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