“Muitas vezes perguntam se tão nova não tive medo. Eu não pensei nisso. Sabia que podia ser presa, mas quem é que pensa que uma coisa dessas me vai acontecer a mim. Eu até nem fazia coisas assim tão transcendentes.” Maria José Ribeiro percorre os exíguos corredores e salas do número 329 da Rua do Heroísmo, no Porto, ao lado de João Oliveira e Paulo Raimundo.
Atual Museu Militar, a casa senhorial foi em tempos a sede a delegação da PIDE na Invicta e foi nessa condição que aqui entrou pela primeira vez em 1959. Tinha 23 anos e era casada há poucas semanas, mas costumava participar em reuniões de jovens na praia do Arainho. “[Depois das eleições de Humberto Delgado] A PIDE entendeu que devia desencadear uma ação de repressão forte, particularmente os jovens para cortar o mal pela raiz.” Eram 24 e foram todos presos, mas Maria José Ribeiro foi a última, porque era a única mulher. A experiência foi “caricata”. “Não sabiam bem o que fazer comigo”, conta. Se no início acharam que era só uma jovem a namorar com alguém do movimento, rapidamente ficou “rotulada” como potencial líder depois de terem encontrado nas buscas domiciliarias as cartas do pai, que tinha estado 16 anos preso no Tarrafal por participar na Revolta dos Marinheiros.
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