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Cotrim deu tudo em Quarteira: pezinhos de dança, selfies, beijos e críticas as “meias-tintas” de Bugalho e “banalidades” de Temido

Europeias 2024 - João Cotrim de Figueiredo, cabeça de lista da Iniciativa Liberal, na festa dos petiscos dos pescadores em Quarteira.
Europeias 2024 - João Cotrim de Figueiredo, cabeça de lista da Iniciativa Liberal, na festa dos petiscos dos pescadores em Quarteira.
Nuno Fox

Ao sexto dia de campanha, João Cotrim de Figueiredo visitou a Festa dos Petiscos do Pescador, em Quarteira, e arriscou dar vários pezinhos de dança a pensar no pé no Parlamento Europeu (PE). Na véspera do voto antecipado, o candidato liberal apelou ao voto dos abstencionistas e dos “arrependidos” da AD e do Chega nas legislativas. Mas recusou hostilizar os descontentes no distrito onde o partido de André Ventura teve o melhor resultado nas eleições de 10 de março

Quase sete da tarde e o sol ainda aquece, sem qualquer brisa. O atraso da comitiva liberal não impediu que a caravana da AD se cruzasse no Passeio das Dunas, em Quarteira, na Festa dos Petiscos do Pescador. Resultado? João Cotrim de Figueiredo ouviu gritos ao longe, não gostou e fez questão de se dirigir depois ao presidente da JSD local para confrontá-lo. “Foram vocês que passaram ali a gritar? Para quem mandou bocas, eu achava mais corajoso e ‘homenzinho’ vir dizer o que é que queriam”, adverte o cabeça de lista da Iniciativa Liberal (IL), num tom didático.

Minutos depois já estava a perguntar pela campanha adversária e a desejar boa sorte, demonstrando fair-play. “Estás a conseguir roubar votos ao Chega (CH)?”, questiona. “Está complicado, as pessoas estão céticas”, admite André Ribeiro, presidente da Juventude Social Democrata (JSD), do núcleo de Quarteira.

Essa é uma das preocupações que une ambos. Afinal, Faro foi o distrito onde o partido de André Ventura teve o melhor resultado nas eleições de 10 de março, conseguindo três dos nove mandatos. Questionado sobre como será possível convencer os descontentes no distrito de Faro, onde o CH teve 27,19% dos votos nas legislativas, Cotrim recusou desde logo hostilizar esses eleitores: “A questão [para as eleições europeias] não é bem entre os cabeças de lista de agora, mas entre os projetos políticos que esses partidos apresentam. Essa questão é bastante importante e a primeira coisa fazer é não desvalorizar a preocupação das pessoas que as levou eventualmente a votar em protesto”, sustentou, apontando para a necessidade de respostas para os problemas do país.

Na passagem pela Festa dos Petiscos, o liberal deu tudo: distribuiu flyers, beijos, abraços e foi desafiado a dar não um, mas vários pezinhos de dança, não se esquivando. Alinhou sem hesitar, contrariando a ideia de que não é “popular”. Pelo meio, tentou convencer mais eleitores, numa tarefa que parecia fácil, a avaliar pela maioria das interações. “Boa tarde. Já tem intenção de voto? Como posso ajudá-la a pensar melhor?”, perguntou Cotrim a Hélia Norte, natural de Quarteira, ao mesmo tempo que um membro da comitiva lhe oferecia um chapéu de palha como uma fita azul com o slogan: “Com Cotrim, sim”. “Bem, agora com o chapéu, já sei”, responde, entre risos.

Convencer indecisos para travar CH

Mais à frente, a missão já não parecia tão simples: “Estou a ver aqui, qual é que escolho”, confessava Vânia Teixeira, de Lisboa, enquanto olhava para os dois folhetos da IL e da AD. “Diga-me porque devo escolher Cotrim e não devo escolher aqui o outro, ADN”, atirou. “Não é ADN, é AD”, advertiu o cabeça de lista liberal, explicando depois os seus argumentos para convencer esta eleitora.

“Ao eleger-se 720 eurodeputados para o PE não é o tamanho do país, por muito que pequeno ou grande que seja que conta, mas a influência pessoal que cada eurodeputado pode ter junto de outros eurodeputados e dos grupos parlamentares. Estive sozinho no Parlamento português durante quase três anos, estamos habituados a ser às vezes tão chatos, às vezes, tão determinados, tão corajosos e à frente que marcamos a agenda. Faz sentido?”, pergunta ainda. “Ok, faz todo o sentido”, concordou de imediato, parecendo estar convencida.

Duarte e Conceição aguardavam sorridentes a chegada do cabeça de lista da IL às Europeias à festa algarvia. Cotrim percebeu logo que são apoiantes da IL, ainda assim, deixou-lhes à mesma um desafio - que distribuíssem até dia 9 de junho mais três folhetos por conhecidos, para o partido conseguir “mais três votos”. E pedia, ao mesmo tempo, ao casal de idosos para que as cruzes não fiquem fora do quadrado, para não serem considerados nulos. “Somos velhos, mas ainda sabemos o que é um quadrado”, gracejou Duarte, dando de seguida um abraço ao liberal.

Candidato da AD "fica-se pelas meias-tintas" e candidata do PS é “fonte de banalidades”

No jantar-comício que se seguiu num restaurante em Quarteira, Cotrim admitiu que além dos jovens, o principal público-alvo do partido, espera poder contar com os votos dos abstencionistas, o “eleitorado que não vota há muito tempo; os “desiludidos de março”, que se arrependeram de ter votado na AD e no CH, e dos "desiludidos de junho", os eleitores que ficaram “bastante desanimados” com os cabeças de lista, as propostas e a campanha que têm feito os seus partidos.

E falou, mais uma vez, diretamente para os eleitores do CH, no distrito de Faro, onde o partido de André Ventura teve o melhor resultado nas legislativas de 10 de março, e apelou ao voto na IL. “A esta hora, certamente, já muitos perceberam que grosseria não é sinónimo de coragem e de força. Que teorias da conspiração não só não são sinónimos, como são o oposto de soluções e conhecimentos técnicos para resolver os problemas”, defendeu.

Aos eleitores que votaram no CH e que poderão ainda não ter percebido que nada do que o partido defende é “útil para a solução dos problemas, não está na hora de votar na IL?”, perguntou. "A sério, preferem ver-se representados em Bruxelas, em Estrasburgo, por mim ou pelo Tânger-Corrêa? Deixem lá o protesto e venham para o lado das soluções. Isto é uma coisa séria. “Não está na hora de votar na IL?”, reforçou num novo apelo ao voto.

Por outro lado, voltou a colar o CH ao PCP, afirmando que “vamos encontrar muito mais parecenças do que as pessoas imaginam” entre os dois partidos, a começar pelas vezes que votam ao lado no Parlamento. Após a resposta de António Tânger Corrêa, que sugeriu a João Cotrim de Figueiredo “ir tratar-se” depois ter sugerido o livro “A Conspiração do Kremlin”, de Joel C. Rosenberg, para o adversário, Cotrim insistiu na tese. “Por serem tão semelhantes, tallvez porisso não seja surpresa que nas regiões onde o Chega mais facilmente começou por crescer foi em zonas onde o PCP era forte”, destacou.

Bugalho “não se deixará capturar pela máquina do PPE ou do Parlamento Europeu?”

No arranque da segunda semana na estrada, Cotrim de Figueiredo apontou ainda baterias aos seus principais adversários, acusando Sebastião Bugalho de ser “pouco assertivo” e de Marta Temido ser uma “fonte de banalidades” e "sem carisma". “Mesmo os que costumam votar PS devem estar surpreendidos que o PS não quer fazer reformas nenhumas para a Europa e tem uma cabeça de lista como Marta Temido, que não consegue dizer duas frases seguidas com nexo sobre a Europa, que é uma fonte de banalidades. E sabem isso na campanha dela, por isso, obrigaram-na a fugir dos debates todos para não passar vergonhas”, atirou perante umas dezenas de apoiantes num restaurante em Quarteira.

E depressa voltou ao ataque de Sebastião Bugalho, que desde ontem passou a lançar farpas, colocando fim ao pacto de não-agressão entre ambos: "Os habituais votantes do PSD e do CDS perante a escolha do seu cabeça de lista só podem concluir que Luís Montenegro preferiu apostar na popularidade, na aparente juventude, em vez da substância e do conhecimento de matérias europeias. E, ficamos, com um candidato que é, contrariamente àquilo que era enquanto comentador, é tímido, é pouco assertivo. Também se fica pelas meias tintas", prosseguiu, depois de ter dito, durante a visita de manhã à 94.ª Feira do Livro, em Lisboa, que queria oferecer "A Economia numa Lição”, de Henry Hazlitt, ao adversário da AD, uma vez que não domina os assuntos económicos.

Mais: acusou Bugalho de se ter deixado capturar pela máquina do PSD, questionando se o candidato da AD “não se deixará capturar pela máquina do PPE ou pela máquina do Parlamento Europeu”.

Em jeito de balanço da primeira semana de campanha, o liberal garantiu sentir uma “espécie de magnetismo da confiança” das pessoas que tem encontrado na rua face à proposta da IL. E espera contar no dia 9 de junho com quatro segmentos eleitorais, em que essa “confiança é reafirmada nas ruas, nas mensagens, nas redes”, todos os dias. A última semana vai ser “fantástica”, antecipou, apelando aos liberais para convencerem mais pessoas a votarem na IL no dia 9. “Conto convosco”.

No sprint final, a caravana liberal coloca o pé no acelerador e vai aumentar o número de ações de campanha por dia em Lisboa e no norte do país. Resta saber que argumentos Cotrim vai usar para intensificar o apelo ao voto.

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