Eleições na Madeira 2024

Madeira: JPP vai votar contra Programa do Governo, executivo de Miguel Albuquerque em risco de cair

Élvio Sousa, cabeça de lista do Juntos Pelo Povo
Élvio Sousa, cabeça de lista do Juntos Pelo Povo
GREGORIO CUNHA/Lusa

A rejeição do Programa do Governo, que será discutido entre terça e quinta-feira, fará com que o Governo Regional fique em gestão até que um novo seja nomeado – o representante da República terá de decidir se dá hipótese à formação de um novo executivo – ou até que haja novas eleições antecipadas, apenas possíveis nos início de 2025

O JPP vai votar contra o Programa do Governo da Madeira, anunciou hoje o líder do partido, o que inviabiliza a aprovação do documento se o PS e o Chega mantiverem o mesmo sentido de voto, como já anunciaram.

Segundo Élvio Sousa, a decisão foi tomada por unanimidade pela comissão política do partido.

Caso os três partidos, que juntos somam 24 deputados no parlamento regional (de um total de 47), votem contra o documento na próxima quinta-feira, o Programa do Governo será chumbado, implicando a queda do executivo presidido pelo social-democrata Miguel Albuquerque.

"Depois de termos hoje, durante toda a manhã, analisado com os militantes, refletido [sobre] o Programa do Governo, que não deixa de ser uma armadilha para enganar muitos madeirenses e manter tudo igual, que é um documento cheio de generalidades, nós decidimos por unanimidade votar contra", afirmou, numa declaração à imprensa, no Funchal, sem direito a questões.

O secretário-geral do JPP defendeu que "cabe ao representante da República [Ireneu Barreto] dizer e justificar se foi enganado ou não foi enganado" relativamente à promessa de estabilidade por parte do líder madeirense do PSD, Miguel Albuquerque, indigitado presidente do Governo Regional após a audição de todos os partidos com representação parlamentar, na sequência das eleições regionais de 26 de maio.

Na altura, Ireneu Barreto disse que "a solução apresentada pelo partido mais votado, o PSD, que tem um acordo de incidência parlamentar com o CDS e a não hostilização, em princípio, do Chega, do PAN e da IL, terá todas as condições de ver o seu Programa aprovado na Assembleia Legislativa".

Élvio Sousa realçou, por outro lado, que o voto contra do seu partido não é "uma catástrofe" e "não significa necessariamente eleições antecipadas", pedindo "cuidado com o clima de medo que estão a tentar lançar".

"Vamos continuar com duodécimos, não é o fim do mundo", referiu, defendendo que as empresas, as associações e os agricultores não ficarão sem apoios, nem as obras públicas pararão, ao contrário do que tem afirmado o presidente do Governo Regional. Depois das eleições de 2023, o Orçamento da Madeira para 2024 não chegou a ser votado, devido à crise política surgida no início deste ano.

No entender do dirigente do JPP, o Programa do Governo, entregue na sexta-feira no parlamento do arquipélago, "apaga definitivamente compromissos anteriores do PSD" - a criação de um regime de incompatibilidades e impedimentos para titulares de cargos públicos e o fim da acumulação de ordenados e reformas.

Mantém também "o monopólio dos portos e não mexe naquilo que é decisivo para a competitividade das empresas, dos consumidores e dos madeirenses", considerou.

Élvio Sousa apontou ainda que o 'ferry' entre a Madeira e o continente, que está incluído no Programa do Governo e é também uma revindicação do JPP, "é para entregar o barco aos donos disto tudo", referindo-se ao Grupo Sousa.

O secretário-geral do JPP destacou também que o gabinete de combate à corrupção incluído no documento será constituído pelo próprio executivo, ou seja, "Miguel Albuquerque quer colocar a raposa a tomar conta do galinheiro".

Contactado pela Lusa após o anúncio do JPP, o gabinete do representante da República remeteu uma eventual reação para depois da votação da próxima semana.

A rejeição do Programa do Governo para o mandato 2024-2028, que será discutido entre terça e quinta-feira, fará com que o Governo Regional fique em gestão até que um novo seja nomeado ou até que haja novas eleições antecipadas, apenas possíveis nos inícios de 2025.

O PAN mostrou-se anteriormente disponível para votar a favor do Programa e do Orçamento Regional, recusando ser um elemento de instabilidade, enquanto a IL admitiu avaliar a gestão social-democrata "programa a programa, orçamento a orçamento, medida a medida".

Mas, mesmo que o PAN e a IL votem favoravelmente o Programa, juntando-se ao PSD e ao CDS-PP, o documento não reúne os votos suficientes para ser aprovado.

Nas eleições regionais antecipadas de 26 de maio, o PSD elegeu 19 deputados, ficando a cinco mandatos de conseguir a maioria absoluta (para a qual são necessários 24), o PS conseguiu 11, o JPP nove, o Chega quatro e o CDS-PP dois, enquanto a IL e o PAN elegeram um deputado cada.

Já depois das eleições, o PSD firmou um acordo parlamentar com os democratas-cristãos, ficando ainda assim aquém da maioria absoluta. Os dois partidos somam 21 assentos.

Depois do sufrágio, o PS e o JPP (com um total de 20 mandatos) anunciaram um acordo para tentar retirar o PSD do poder, mas Ireneu Barreto entendeu que não teria viabilidade e indigitou Miguel Albuquerque.

As eleições de maio realizaram-se oito meses após as legislativas madeirenses de 24 de setembro de 2023, depois de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter dissolvido o parlamento madeirense, na sequência da crise política desencadeada em janeiro, quando Miguel Albuquerque foi constituído arguido num processo sobre alegada corrupção.

O governante acabou por se demitir e o Governo da Madeira ficou então em gestão.

No mandato iniciado em 2023, e que se previa durar até 2027, Albuquerque - que preside ao executivo desde 2015 - conseguiu ver o Programa do Governo aprovado, com os votos favoráveis do PSD, do CDS (com o qual os sociais-democratas tinham uma coligação) e do PAN (que tinha um acordo de incidência parlamentar com o PSD). Toda a oposição votou contra.

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