Autárquicas: IL admite que campanha “não será fácil” e promete lutar contra “máquinas pesadas” e “compadrio”
MANUEL DE ALMEIDA
No Encontro Nacional Autárquico, que marca o arranque da campanha liberal, Mariana Leitão apelou à simplificação da mensagem, afirmando que “cada frase" dos candidatos tem de caber na “boca do povo” e os eleitos locais não devem ceder a pressões e recusar “tachos” e “desperdícios em obras inúteis”
Quatro anos depois da sua estreia em eleições locais, a Iniciativa Liberal (IL) quase duplicou as candidaturas às autárquicas de 12 de outubro, concorrendo agora a 88 municípios – 59 candidaturas próprias e 29 coligações. Mas, nem por, isso a missão do partido se antecipa fácil, com a líder a recusar antecipar metas. No Encontro Nacional Autárquico, que decorreu este domingo no Estoril, Mariana Leitão reafirmou que o objetivo é aumentar o número de eleitos locais, entre vereadores e deputados municipais, depois de já ter reconhecido que será difícil conquistar uma presidência de câmara. E apelou à influência dos liberais na governação local, contra “máquinas pesadas” e “velhas” e “décadas de compadrio”.
“Esta campanha não será fácil, e nenhuma grande mudança alguma vez foi fácil, não se deixem intimidar por máquinas partidárias velhas. Nós não temos máquinas pesadas, não temos redes de favores, não temos décadas de compadrio. O que temos é muito mais poderoso: ideias fortes, convicções firmes e a coragem de lutar por elas”, disse Mariana Leitão durante a sua intervenção no evento que marca o arranque da campanha autárquica dos liberais.
Na plateia entre os 400 convidados estavam Marco Almeida encabeça a coligação "Sempre com os Sintrenses"-PSD/IL e PAN e Cristóvão Norte que lidera a coligação "Faro, Capital de Confiança" - PSD/IL/CDS-PP/ PAN e MPT, que ouviram atentos o discurso da presidente dos liberais, com recados aos partidos com implantação autárquica como o PSD, que integra a larga maioria das coligações com os liberais."Não aceitaremos desperdícios em obras inúteis, tachos ou privilégios para os de sempre. Cada euro de imposto tem de voltar às pessoas em serviços públicos melhores, mais eficazes e mais próximos", avisou.
Afirmando que a IL quer ser a alternativa contra o “conformismo”, Mariana Leitão defendeu que a tarefa do partido com maior implantação autárquica e peso em executivos municipais é garantir que as câmaras municipais sejam “motores de desenvolvimento” e “não máquinas de compadrio", “mais leves, ágeis e transparentes”, que criem condições para atrair investimento, gerar emprego e fixar talento. Tal como a nível nacional, o partido elege a descida dos impostos e a redução da burocracia como prioridades a nível local.
“Portugal não pode continuar a ser um país onde criar riqueza é uma corrida de obstáculos. Precisamos de regras claras, menos burocracia e mais confiança para que empresas possam crescer e oportunidades possam surgir em cada concelho, em cada freguesia”, acrescentou.
Além das propostas, a presidente da IL voltou a defender a irreverência do partido, mas apelou à simplificação da mensagem para chegar à maioria dos eleitores nas autarquias e juntas de freguesia de cidades e aldeias. Com o partido a ser predominantemente urbano, a prioridade passa também por tentar alargar a geografia e a base eleitoral. “A nossa mensagem tem de ser clara, simples, direta, sem floreados, sem códigos, sem desculpas. Cada frase nossa tem de caber na boca do povo”, vincou, sublinhando que um “bom resultado” nas autárquicas seria a melhor prenda no dia em que comemora o 43.º aniversário.
MANUEL DE ALMEIDA/LUSA
Coordenador autárquico pede "irreverência" com "responsabilidade"
Antes, Miguel Rangel, deputado e coordenador autárquico da IL, considerou que em 2021 a IL estreou-se nas eleições autárquicas e marcou presença em várias autarquias, mas agora terá condições para aumentar a sua representação a nível local numa nova fase de crescimento do partido, o que exige “responsabilidade”. Defendeu, contudo, que para isso será fundamental manter as “convicções fortes” e a “cultura” de irreverência, que distinguem a IL de “todo” o espectro político-partidário.
"Hoje, em 2025, estamos mais fortes, mais preparados e mais determinados do que nunca. Somos já presença ativa no debate de temas como a mobilidade, a habitação, os impostos locais, o rigor, a transparência, a modernização e a simplificação. Levarmos a política tática a sério e não como um mero exercício de poder no poder", atirou, numa alusão ao facto de a IL ter recusado uma coligação pré-eleitoral com a AD.
Prometendo um debate “sem medo” e “tabus”, Miguel Rangel apelou aos candidatos autárquicos para continuarem a mostrar “coragem” na defesa das “boas ideias” para os municípios, sem ceder a pressões externas: “O que sobra são partidos frentes do passado, em ideologias que já provaram fracassar e destruir por complexos sociedades inteiras, ou então projetos de poder pelo poder, e vazios de uma visão para o país ou ainda discursos radicais e amargurados, que vivem do ressentimento, que exploram o sistema e vendem ódio como se fosse solução”, prosseguiu, com críticas da esquerda à direita populista, nomeadamente o Chega.
A regra da IL mantém-se: o partido corre em pista própria na maior parte dos casos, tendo aprovado candidatos próprios em 59 concelhos e 29 coligações, concorrendo no total a 88 autarquias. Mas é significativa a diferença ao nível do número de alianças. Há quatro anos, a IL integrou apenas sete coligações e apresentou candidatos próprios em 46 municípios.