Autárquicas 2025

Novos dados sobre o Elevador da Glória deixam Carlos Moedas sob fogo cruzado, autarca fala de "falha técnica"

Os candidatos à Câmara de Lisboa, num debate televisivo
Os candidatos à Câmara de Lisboa, num debate televisivo
TIAGO MIRANDA

Num debate na CNN, candidatos da oposição à Câmara de Lisboa exigem em uníssono esclarecimentos de Moedas, com o PCP a juntar-se ao PS nas críticas. Autarca fala de aproveitamento político e quer esperar pelas investigações

Os candidatos à Câmara de Lisboa nas próximas autárquicas exigiram na noite de terça-feira todos os esclarecimentos sobre acidente no Elevador da Glória, criticando Carlos Moedas por adiar para depois das eleições uma reunião extraordinária pedida sobre o caso.

O acidente no Elevador da Glória foi um dos temas principais de um debate com alguns dos candidatos à presidência da Câmara de Lisboa nas eleições autárquicas de 12 de outubro, organizado pela CNN, no qual participaram Carlos Moedas (PSD/CDS-PP), Alexandra Leitão (PS/Livre/BE/PAN), João Ferreira (CDU-PCP/PEV) e Bruno Mascarenhas (Chega).

"Se há factos novos, eles não devem ser discutidos na praça pública, devem ser discutidos na Câmara Municipal de Lisboa. E isso tem de acontecer antes das eleições. Não se pode fugir às responsabilidades", defendeu Alexandra Leitão.

A candidata que encabeça uma coligação formada pelo PS, Livre, BE e PAN criticava desta forma o atual presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, de recusar o pedido da oposição para uma reunião extraordinária na quinta-feira sobre o acidente com o elevador da Glória, tendo agendado o encontro para 13 de outubro, dia seguinte às autárquicas.

"Há factos novos que não podem ser ignorados", justificou Alexandra Leitão, referindo a uma investigação jornalística que revelou a existência de dois acidentes técnicos, em outubro de 2024 e maio deste ano, bem como cartas da comissão de trabalhadores da Carris a alertar para falhas de manutenção.

No mesmo sentido, o candidato da CDU, João Ferreira, acusou Carlos Moedas de ser contraditório, uma vez que nas duas reuniões extraordinárias sobre este tema "nunca informou a oposição de que tinha recebido uma carta da comissão de trabalhadores da Carris", defendendo um "apuramento cabal do que se passou".

"Ou Carlos Moedas entende que não há explicações nenhumas a dar e não marca uma reunião de Câmara ou se marca uma reunião de Câmara é porque entende que há explicações a dar e não o faz para daqui a três semanas", afirmou o candidato comunista.

Já o candidato do Chega, Bruno Mascarenhas, foi mais longe nas críticas, defendendo que que Carlos Moedas "nem devia ser candidato à Câmara de Lisboa".

"Face aos dados que temos hoje, o engenheiro Moedas já devia ter demitido o conselho de administração da Carris e o vereador dos transportes. Não se pode desconhecer uma realidade destas, quando morreram 16 pessoas", observou.

Em resposta, Carlos Moedas rejeitou as críticas, acusando a oposição de "politizar uma tragédia"

"Estamos a falar de uma falha técnica e eu lancei não só uma investigação interna, mas uma investigação externa, independente, e também a investigação que está a ser feita pelo Gabinete de Estudos do Governo. Portanto, nós temos que esperar pelos resultados dessa investigação. É a única coisa que eu peço" sublinhou o presidente recandidato.

Relativamente aos dois acidentes que ocorreram em outubro de 2024 e em maio deste ano no elevador da Glória (sem feridos), que não foram divulgados, Carlos Moedas argumentou que trataram de "pequenos" incidentes e ressalvou que uma empresa de transportes como Carris regista mais de 1.600 ocorrências por ano.

"Não se pode querer transformar isto numa arma política a duas semanas das eleições", afirmou o autarca social-democrata, que mostrou também a carta da comissão de trabalhadores, insistindo que "nem uma vez menciona o elevador da Glória ou outros ascensores".

O autarca assegurou ainda que "todas as informações estão disponíveis na comissão de acompanhamento já criada" e reiterou que "a responsabilidade política está assumida pelo investimento feito na Carris e na manutenção".

No debate foi também discutida a questão da higiene urbana e a recolha de lixo, com críticas à gestão da atual liderança e à descentralização das competências para as freguesias. Carlos Moedas defendeu a retoma de um modelo mais centralizador e a ampliação da recolha do lixo indiferenciado para seis dias por semana.

Já Alexandra Leitão defendeu maior descentralização e criticou a atual gestão da higiene urbana em Lisboa. "Lisboa nunca foi tão suja. Lisboa nunca cheirou tão mal. Lisboa nunca teve espaços públicos tão descuidados", afirmou.

A questão da habitação foi outro dos temas abordados no debate, tendo Carlos Moedas destacado o programa Renda Acessível e a entrega de 2.881 chaves durante o mandato, metade para jovens profissionais e metade para famílias em situação de vulnerabilidade. "Ajudámos mais de 4.200 famílias a pagar a renda. É muito importante ver qual é o projeto que queremos continuar para o futuro", apontou.

O autarca garantiu ainda que a Câmara de Lisboa está a dialogar com o Governo sobre os imóveis públicos disponíveis para habitação e que já enviou cartas aos ministros para que edifícios do Estado sejam usados para responder à emergência habitacional.

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