Exclusivo

Autárquicas 2025

Ética dos candidatos autárquicos é valorizada, mas o desempenho da câmara conta mais na hora de votar

Isaltino Morais é um exemplo de como o funcionamento da câmara se sobrepõe à avaliação ética
Isaltino Morais é um exemplo de como o funcionamento da câmara se sobrepõe à avaliação ética
João Lima

Barómetro da Fundação Francisco Manuel dos Santos demonstra “imagem positiva” do poder local

A pouco mais de um mês das eleições autárquicas, pode ser mais relevante que nunca ficar a conhecer melhor a forma como o eleitorado toma decisões a nível local. É a isso que se propõe o novo Barómetro Poder Local da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), publicado na quinta-feira, quando questiona os inquiridos sobre os principais fatores que influenciam o seu sentido de voto. À cabeça está o desempenho que a Câmara Municipal tem tido e, logo a seguir, as características pessoais dos candidatos. Destas, é a ética que se destaca como o atributo mais valorizado pelo eleitorado — 27% valorizam “candidatos que se mostram intransigentes do ponto de vista ético, nunca contornando a lei ou os princípios quando procuram resolver problemas”, lê-se.

Estes dados podem parecer contraditórios com o sucesso de candidatos que já estiveram a braços com a justiça como Isaltino Morais, presidente da Câmara de Oeiras, condenado por crimes de fraude fiscal e branquea­mento de capitais. “Ainda antes do perfil do candidato, as pessoas olham para o desempenho da Câmara. Se virem que independentemente de tudo o resto os resultados foram bons, é por aí que decidem o voto”, explica ao Expresso Nuno da Cruz, um dos responsáveis pelo barómetro e investigador na Governação, Competitividade e Políticas Públicas (GOVCOPP) da Universidade de Aveiro.

Só depois do comportamento ético é que surge a valorização da orientação ideológica (23,7%), o estilo de liderança (18,3%) ou a experiência profissional (10,6%) do candidato.

Também o impacto do contexto nacional na decisão nas autárquicas parece ser reduzido. O “estado do país” cai para terceiro nos fatores que influenciam o sentido de voto, o que vai ao encontro das diferenças muitas vezes registadas entre os resultados das autárquicas e das legislativas. “Não é impensável que o descontentamento nacional se possa fazer notar, mas não será o fator determinante. As pessoas têm preocupações diferentes nestas eleições”, confirma o investigador.

Os dados do barómetro confirmam também que as autárquicas são eleições altamente personalizadas, com a escolha do candidato a ter um impacto muito mais significativo no voto do que as medidas propostas para os municípios. “Os programas eleitorais são, de todas as coisas que perguntamos, o menos importante”, acrescentou.

Eleitores confiam mais no poder local do que na AR

A proximidade e o impacto direto das políticas na vida das pessoas explicam a imagem positiva que o eleitorado tem do poder local, que contrasta com a dos políticos ou os partidos. De acordo com o barómetro, 44% do eleitorado tem uma imagem “positiva” ou “muita positiva” do poder local e só 17% vê como “negativa” ou “muita negativa”. “Nos 50 anos da democracia local o sentimento da população é positivo”, congratula-se o investigador da Universidade de Aveiro. O saldo é ainda mais positivo quando se isolam os eleitores dos municípios não urbanos (o estudo utilizou a classificação do Eurostat, segundo a qual há 26 municípios urbanos em Portugal Continental e 252 não urbanos). Aí, os inquiridos “confiam mais no poder local do que na Assembleia da República, no Governo, no sistema judicial e nos partidos políticos”, explica Nuno da Cruz. O mesmo não acontece com os inquiridos dos municípios urbanos e a diferença explica-se pela proximidade que é “muito mais sentida” nos municípios com menor densidade populacional.

Embora os munícipes não urbanos confiem mais no poder local, acabam por valorizar mais as instâncias centrais e o inverso acontece nos municípios urbanos. “É o Governo central que decide sobre se é ou não construída uma barragem, se avança ou não um investimento. Enquanto nos municípios urbanos, as pessoas sofrem mais no dia a dia com assuntos da esfera municipal como o trânsito, a habitação, a segurança ou a higiene urbana.”

NÚMEROS

69%

dos inquiridos dizem que vão votar nas eleições autárquicas deste ano “com toda a certeza”. 22,3% afirmam que “em princípio” vão votar e apenas 2,6% têm a convicção de que não vão participar nas eleições de 12 de outubro


44%

dos inquiridos responderam ter uma imagem “positiva” ou “muito positiva” do poder local. O valor sobe nos municípios não urbanos e entre os eleitores mais velhos

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mcoutinho@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate