
A Marinha e o Exército registaram máximos de saídas inesperadas em 2022. No ano passado, as Forças Armadas perderam 7,2% do efetivo e faltam 7.732 militares. Há 1,7 oficiais e sargentos por cada praça.
A Marinha e o Exército registaram máximos de saídas inesperadas em 2022. No ano passado, as Forças Armadas perderam 7,2% do efetivo e faltam 7.732 militares. Há 1,7 oficiais e sargentos por cada praça.
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Desiludido, o sargento-ajudante Miguel Rego escreveu à ministra da Defesa Nacional, Helena Carreiras, a explicar por que pediu o abate aos quadros da Força Aérea depois de 24 anos fardado de azul. A saturação descrita pelo militar na sua carta — reproduzida em abril no jornal “Sargento” — não será estranha a muitos que têm deixado as fileiras. Miguel Rego ingressou como praça em 1999, depois estudou e fez o curso de sargentos, evoluiu, especializou-se nos sistemas do avião de transporte C-295 e saiu seduzido por uma oferta para ganhar o dobro no estrangeiro. “Foi uma empresa civil de outro país que entrou em contacto comigo. Se como 1º cabo ganhava o dobro do ordenado mínimo, como sargento-ajudante nem ao dobro chegava”, escreveu o ex-militar. Ao longo dos anos o salário mínimo nacional disparou, mas o vencimento dos militares estagnou: “Esta empresa simplesmente ofereceu o dobro do meu ordenado atual, com seguros de saúde para mim e a família. Saí do país e fui para instrutor de uma empresa fabricante de aeronaves.”
A “degradação da condição militar” que o sargento menciona, a má qualidade das instalações e dos equipamentos, a sobrecarga de trabalho e a falta de perspetivas levou-o a desistir, como a outros cinco camaradas da mesma esquadra: “E outros tantos querem sair”, avisa. A sua amargura traduz-se assim: “Senti-me abandonado e traído pelo Estado, após ter dado 24 anos da minha vida e da minha família”, porque “adorava a instituição onde entrei, mas não a atual”. Para ele “já não há volta a dar”, mesmo com as medidas que estão em curso (ver texto ao lado).
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