Crise política

“Vou cumprir a minha palavra”: declarações de Passos não mudam recusa de Montenegro ao Chega

“Vou cumprir a minha palavra”: declarações de Passos não mudam recusa de Montenegro ao Chega
PAULO NOVAIS

Estratégia do apelo ao voto útil mantém-se, “não é não” ao Chega também. Montenegro responde a Pedro Nuno Santos colando o PS à esquerda e insistindo que PSD é a única alternativa nas eleições legislativas de Março

Uma e outra vez, Luís Montenegro repete que com o Chega não governa, seja em que moldes for. Aliás, “eu já disse o que pensava, nem sequer preciso de repetir”, disse o líder do PSD esta manhã, a fechar a visita ao distrito de Aveiro. “Vou cumprir a minha palavra.”

A pergunta sobre entendimentos com o Chega voltou a ganhar força depois de Pedro Passos Coelho ter falado publicamente na terça-feira, o que tem tendência a agitar a direita e a abrir leituras várias, e de Pedro Nuno Santos ter usado as palavras de Passos para sublinhar que o que o ex-primeiro-ministro disse é o mesmo que Montenegro “também quer, mas não consegue assumir”. Ou seja, que com mais ou menos retórica, o PSD vai aliar-se ao partido de André Ventura.

A estratégia do PS é essa há vários meses: colar o PSD ao Chega e fazer um apelo que em 2022 foi decisivo para a maioria absoluta. Do lado social-democrata, a ideia é insistir na recusa total de diálogo com o Chega (coisa que Rui Rio não fez) e apelar ao voto útil, como quem diz que votar no Chega é perder um voto à direita - e assim perpetuar o PS no Governo.

Questionado sobre esta geometria, Passos Coelho foi suficientemente subtil para, não falando em acordo, deixar nas entrelinhas que talvez o fizesse. “Vai depender das estratégias que os partidos venham a definir”, disse o ex-líder do PSD, mesmo sabendo-se que a estratégia Montenegro está definida e é conhecida há meses.

Passos também disse que esse futuro da direita depende “das condições que os portugueses ofereçam aos partidos que terão a responsabilidade de governar”. E depois juntou: “Espero que ambos [PSD e Chega] tenham uma aguda consciência da importância dos tempos que aí vêm.”

Luís Montenegro fecha esta quarta-feira mais uma visita da iniciativa “Sentir Portugal”, desta vez em Aveiro, e foi questionado sobre as palavras de Pedro Nuno sobre Passos. E respondeu que isso “é duplamente desonesto, porque nem o dr Pedro Passos Coelho disse isso [que o PSD devia fazer acordo com o Chega], nem a minha posição é suscetível de ser colocada em dúvida”.

De caminho, mais um ataque a Pedro Nuno Santos, a quem Montenegro tem criticado os “ziguezagues”. “Se Pedro Nuno Santos não está habituado a ter decisões sérias e consequentes, eu estou.” Como fez no Congresso do PSD, o líder social-democrata vai colar o PS à sua esquerda e colocar-se como única alternativa, sem a direita que hoje está no Parlamento, Chega e Iniciativa Liberal.

“Estão criadas condições para que os portugueses tenham duas grandes opções políticas. Socialista, comunista e bloquista por um lado, e o PSD do outro. Nunca as ideias estiveram tão claras”, afirmou Montenegro.

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