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Crise política

"Um primeiro-ministro não tem amigos", diz Costa na noite em que admite não voltar a exercer mais cargos públicos

"Um primeiro-ministro não tem amigos", diz Costa na noite em que admite não voltar a exercer mais cargos públicos
Joao Girao

Pediu desculpa pelo dinheiro encontrado no escritório do seu chefe de gabinete e rejeitou que o “melhor amigo” tivesse mandato para falar em seu nome. No dia em que Escária e Lacerda Machado estavam a ser interrogados em tribunal, o primeiro-ministro demissionário foi a São Bento com o pretexto de dar uma aula de governação política e tranquilizar quem investe no país, mas acabou a falar de política para a Justiça ouvir

"Um primeiro-ministro não tem amigos", diz Costa na noite em que admite não voltar a exercer mais cargos públicos

Rita Dinis

Jornalista

Há quatro dias, quando anunciou a sua demissão, António Costa falou no fim de “uma etapa”. Deixaria de ser primeiro-ministro, mas não colocava um ponto final na sua carreira política. Este sábado foi mais longe, amarrando o seu futuro ao próprio futuro da investigação judicial da Operação Influencer, que envolve pelo menos um ministro seu, um chefe de gabinete e um consultor que em tempos apelidou de o seu “melhor amigo”. "Já me demiti de primeiro-ministro, já anunciei que não serei candidato a primeiro-ministro e, com a duração previsível deste processo judicial, não exercerei, com grande probabilidade, mais qualquer cargo público", afirmou este sábado, já em resposta às perguntas dos jornalistas, depois de uma declaração ao país.

Foi uma declaração ao país inédita, de um primeiro-ministro demissionário, mas em plenas funções constitucionais, e no meio de um processo judicial que decorre contra si. Mais: no mesmo dia em que Vítor Escária, chefe de gabinete, e Diogo Lacerda Machado, o “melhor amigo”, estavam a ser ouvidos pelo juiz de instrução criminal no âmbito do processo judicial sobre os negócios do lítio e do hidrogénio verde e do data center em Sines.

Acompanhado da mulher, Fernanda Tadeu, que se sentou no chão da sala, ao lado do aparato dos fotojornalistas, António Costa apareceu aos portugueses em horário nobre para dizer duas coisas: pedir desculpa e mostrar-se “envergonhado” pelos envelopes com dinheiro encontrados no gabinete de Vítor Escária na residência oficial do primeiro-ministro; e para usar desta sua condição insólita de primeiro-ministro que vai deixar de governar para desconstruir aquilo que diz serem “ideias perigosas” de que os governantes não devem fazer todos os possíveis - no quadro da lei - para atrair investimento para Portugal. Devem, mas “sempre, sempre, no cumprimento da lei”, disse, sugerindo implicitamente que foi isso que os ministros do seu governo fizeram.

O mote era falar para os portugueses, para os investidores que estão a investir em Portugal e até para os “futuros governantes”, sejam eles quem forem e de que partido forem ("não tenham medo de decidir"), mas, de caminho, António Costa acabou por falar para o Ministério Público, que tem em mãos o processo judicial onde João Galamba é arguido e onde Vítor Escária e Lacerda Machado foram interrogados e aguardam, detidos, as medidas de coação a que ficarão sujeitos.

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