Autarquias

Oposição questiona imparcialidade de Moedas por causa do projeto 'Benfica District'

Oposição questiona imparcialidade de Moedas por causa do projeto 'Benfica District'
SIC

Os vereadores da oposição na Câmara de Lisboa consideraram hoje "inadmissível" a presença do presidente do executivo municipal, Carlos Moedas (PSD), na apresentação do projeto urbanístico 'Benfica District', acusando-o de "manobra eleitoralista" e questionando a sua imparcialidade e transparência

As críticas e preocupações da oposição, nomeadamente PS, PCP, Livre, BE e Cidadãos Por Lisboa (eleitos pela coligação PS/Livre), foram manifestadas na reunião privada da câmara, na ausência do social-democrata Carlos Moedas, o principal visado nesta questão, uma vez que esteve presente na terça-feira na apresentação do 'Benfica District'.

O projeto, que pretende aumentar a capacidade do Estádio da Luz, foi apresentado pelo presidente do Benfica, Rui Costa, que é recandidato ao cargo nas eleições de outubro deste ano.

Em resposta à agência Lusa, fonte do gabinete de Carlos Moedas disse que o presidente da câmara marcou presença na apresentação do 'Benfica District' "como marca em muitas outras apresentações de projetos relevantes para a cidade nas mais diversas áreas".

"É um potencial investimento que procura dinamizar e acrescentar mais valias no desenvolvimento de uma área da cidade, que assenta na requalificação, modernização e transformação de toda uma envolvência de um espaço aberto aos lisboetas", afirmou o gabinete do presidente da câmara.

A mesma fonte referiu que, além do presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), o evento contou com a presença de "muitos outros representantes, incluindo do Governo": "Não podendo, nem fazendo qualquer sentido, de que estas presenças representem quaisquer apoios no processo em curso de eleições do SLB [Sport Lisboa e Benfica]."

"Aliás, ao contrário de anteriores presidentes da CML, o presidente Carlos Moedas deixa desde já a garantia de que não fará parte de qualquer comissão de honra de candidatos à liderança de clubes de futebol", expôs, numa alusão aos socialistas António Costa e Fernando Medina, que integraram em 2020 a comissão de honra da recandidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do SLB.

Na terça-feira, na reunião da Assembleia Municipal de Lisboa, a vereadora do Urbanismo, Joana Almeida (independente que integra a liderança PSD/CDS-PP), afirmou que "não entrou nenhum processo para o 'Benfica District' no Urbanismo da Câmara Municipal".

Para a vereação do PS, a presença do social-democrata Carlos Moedas na apresentação do projeto urbanístico 'Benfica District' tratou-se de "um aproveitamento político inadmissível".

"É inqualificável estar a usar a campanha de um clube para servir a sua campanha autárquica", afirmou o vereador socialista Pedro Anastácio, acusando o presidente da câmara e candidato da coligação PSD/CDS-PP/IL nas eleições autárquicas de 12 de outubro de se comportar como "uma espécie de dono disto tudo", ao utilizar os meios do município para autopromoção.

O PCP considerou que a presença de Carlos Moedas no evento do Benfica foi "uma lamentável manobra eleitoralista, que não tem em conta os deveres institucionais inerentes ao cargo de presidente da CML", explicando que o projeto urbanístico em causa é suscetível de exigir interação com os serviços camarários a níveis diversos, inclusive licenciamento e fiscalização.

"Exige-se ao presidente da câmara que tudo faça para manter a idoneidade, isenção e imparcialidade dos serviços que dirige acima de qualquer dúvida ou suspeição", reclamaram os comunistas.

Do Livre, o vereador Rui Tavares questionou sobre "um possível incumprimento do PDM [Plano Diretor Municipal] em matéria de áreas impermeáveis" quanto ao projeto 'Benfica District', referindo que o vice-presidente da câmara, Anacoreta Correia (CDS-PP), respondeu que "não se trata ainda de um projeto, de momento trata-se apenas de uma noção, de uma ideia, de um vago conceito que um dia será um projeto, que será avaliado e decidido quando chegar à Câmara Municipal".

"O que aconteceu, e que vemos com maus olhos, foi que o presidente Moedas se antecipou a qualquer avaliação do projeto pela Câmara Municipal, e que, com a sua presença de ontem [terça-feira], validou politicamente este projeto, para retirar dividendos políticos para a sua campanha eleitoral", acusou o Livre.

O BE manifestou "sérias preocupações quanto à imparcialidade e transparência" dos processos urbanísticos na cidade, na sequência da presença de Moedas na apresentação do Benfica, com "um projeto que, até à data, não foi licenciado pela autarquia e cuja conformidade com o PDM não foi publicamente verificada", exigindo a documentação a este propósito.

Para os Cidadãos Por Lisboa, o social-democrata Moedas não deveria assumir publicamente, "sem reservas e de antemão, o apoio a um empreendimento urbanístico que, pelos seus contornos e dimensão, vai obrigar a análise exigente e isenta do município": "A não ser que, mais do que presidente da CML, esteja já a falar como candidato às eleições autárquicas de outubro".

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