Política

Carta aberta, com nomes do PSD, pede reforço do acesso ao aborto e alargamento do prazo

Paula Teixeira da Cruz foi ministra da Justiça do Governo de Passos Coelho, de junho de 2011 a outubro de 2015
Paula Teixeira da Cruz foi ministra da Justiça do Governo de Passos Coelho, de junho de 2011 a outubro de 2015
Luís Barra

Uma carta aberta subscrita por pessoas de várias áreas pede à Assembleia da República o reforço do "acesso efetivo" à interrupção voluntária da gravidez, defendendo que a lei pode ser melhorada, nomeadamente através de um alargamento do prazo. Entre os subscritores há nomes do PSD, que deve votar contra os projetos no Parlamento

Uma carta aberta subscrita por pessoas de várias áreas pede à Assembleia da República o reforço do "acesso efetivo" à interrupção voluntária da gravidez, defendendo que a lei pode ser melhorada, nomeadamente através de um alargamento do prazo.

"As e os signatários da presente carta aberta consideram urgente alterar a chamada Lei da interrupção voluntária da gravidez (IVG), no sentido de reforçar o acesso efetivo a este direito", lê-se na carta hoje divulgada.

Esta carta aberta é promovida por Inês Melo Sampaio, jurista na Comissão Europeia, e Teresa Violante, investigadora universitária e advogada.

É subscrita também por personalidades como a eurodeputada e ex-líder do BE, Catarina Martins, a apresentadora televisiva e ativista Catarina Furtado, a obstetra e antiga diretora clínica da Maternidade Alfredo da Costa Ana Campos, as antigas vice-presidentes do PSD Paula Teixeira da Cruz e Teresa Leal Coelho, a antiga eurodeputada e diplomata Ana Gomes, os eurodeputados do PS André Rodrigues e Carla Tavares, o músico Carlão, a antiga ministra da Justiça e Francisca Van Dunem, o ativista antirracista Mamadou Ba e atuais deputados do PS e BE.

Os quase 200 subscritores afirmam que "durante demasiado tempo, os governos e o parlamento deixaram o direito à IVG esquecido, como se tudo estivesse feito".

"Não está. Falta concretizar e tornar efetivo o acesso a um aborto legal e seguro em Portugal", defendem, apontando "o prazo demasiado curto para o exercício deste direito; a falta de regulamentação da objeção de consciência, e a necessidade de garantir um acesso territorial adequado a todas as mulheres que pretendam aceder à IVG".

Os cidadãos que assinam a carta alertam a Assembleia da República "para a necessidade de adoção de medidas legislativas no sentido do reforço do direito à IVG e da remoção dos obstáculos ao seu exercício, nomeadamente em matéria de alargamento do prazo e de regulamentação do exercício do direito à objeção de consciência por profissionais de saúde".

A carta defende que "nada impede, política ou juridicamente, a AR de rever a lei que, em 2007, abriu de par em par esta janela de dignidade em Portugal", devendo "acompanhar a evolução da ciência e as recomendações das organizações internacionais nesta matéria, exercendo a sua competência legislativa nos termos constitucionais ordinários".

Pedem igualmente que sejam recolhidos os contributos de "todas as associações representativas dos direitos das mulheres, bem como de médicos e demais profissionais de saúde", para que eventuais alterações sejam "bem alicerçadas na ciência e na evidência científica".

"Quase duas décadas volvidas sobre a aprovação da lei da IVG, resulta claro que urge aumentar o prazo para o exercício deste direito", defendem os subscritores, indicando que "Portugal tem, a par da Eslovénia, o prazo mais curto de entre os Estados-membros da UE que reconhecem este direito (10 semanas)".

Os signatários alertam ainda para o "desrespeito dos prazos legais para as consultas prévias" e consideram que "a falta de médicos e outros profissionais de saúde não objetores pode culminar em violações do direito à saúde e numa discriminação interseccional ou múltipla contra as mulheres mais vulneráveis, numa clara violação do princípio constitucional da igualdade".

A Assembleia da República debate na sexta-feira, por iniciativa do PS, várias propostas relativas à IVG, entre as quais o alargamento do prazo.

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